As smart grids ou redes elétricas inteligentes (REI) são consideradas um tema relativamente novo no mundo e com alto potencial de desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), e de geração de oportunidades, novos serviços e mercados. Apesar de se tratar de um movimento recente no Brasil, o país já conta com mais 200 projetos pilotos em andamento, envolvendo cerca de 450 instituições – entre ministérios, agências reguladoras, universidades e empresas.
Mapeamento divulgado, nesta quarta-feira (11), no Workshop de Redes Elétricas Inteligentes – promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) em parceria com o Instituto da Associação de Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de Telecomunicações (iAptel) – mostra que existem mais de 300 fornecedores nacionais de tecnologia da informação e comunicação, 126 centros de pesquisa e desenvolvimento e inovação e 60 concessionárias em atuação neste segmento no território nacional.
Os investimentos na área chegaram a R$ 1,6 bilhão, nos últimos anos, com recursos originários especialmente do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Inova Energia (R$ 1,2 bilhão), sendo essa última ação parte do Plano Inova Empresa, lançado pelo governo federal, em março do ano passado, para estimular a produtividade e a competitividade em vários setores da economia.
Somente a Finep, agência de fomento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destinou R$ 637 milhões – em subvenção econômica, crédito e recursos não reembolsáveis – a iniciativas de empresas e de instituições de ciência e tecnologia. Por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o MCTI lançou, em 2013, uma chamada pública no valor de R$ 8 milhões com o intuito de apoiar projetos de pesquisa científica e de inovação em REI, contemplando 13 projetos em diversas regiões do país.
No Workshop de Redes Elétricas Inteligentes, o coordenador de tecnologias setoriais da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec/MCTI), Eduardo Soriano, apresentou as ações do ministério – em parceria com a Aneel – que estão previstas para fortalecer o setor no país, entre elas, a criação de mecanismos para fomentar recursos humanos, com a oferta de cursos específicos para mestrado profissional no âmbito do programa Ciência Sem Fronteiras, além da criação de laboratórios de pesquisa na área.
No encontro, Soriano destacou, ainda, a possibilidade de incentivos fiscais para empresários interessados em investir no segmento a partir da Lei de Informática e da Lei do Bem. Participaram do evento, em Brasília, cerca de 150 representantes de concessionárias, empresas fornecedores de tecnologias da informação e da comunicação (TIC), centros que desenvolvem pesquisas na área e do governo federal, incluindo o MCTI a Finep.
Tendência mundial
Como explica o especialista na área de energia e combustíveis da Setec, o interesse no segmento se justifica diante da tendência mundial de modernização dos sistemas elétricos e da constatação do alto índice de perdas na distribuição da energia no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), essas perdas chegaram a 16,5%, em 2012, tanto por motivos técnicos como comerciais, especialmente devido a furtos, fraudes e a problemas de medição e de faturamento.
A expectativa é de que as redes elétricas inteligentes possam contribuir no aperfeiçoamento do sistema, por utilizarem tecnologias digitais avançadas para monitorar e gerenciar o transporte de eletricidade em tempo real com fluxo de energia e de informações bidirecionais entre o sistema de fornecimento de energia e o cliente final. “É colocar inteligência nas redes elétricas, fazendo com que elas trabalhem de forma mais efetiva, melhorando a gestão, aumentando eficiência energética e a economia dessa energia”, reforça Soriano, que é coordenador de Tecnologias Setoriais da Setec.
Imagina não precisarmos ligar para a concessionária quando faltar energia? Podermos acompanhar o quanto estamos gastando e saber quando a energia está mais cara ou barata? A concessionária interromper o fornecimento de apenas poucas quadras ao invés de desligar toda a região quando ocorrer um problema? A empresa poder fazer o desligamento remoto quando detectar o não pagamento da fatura? Ou, ainda, a possibilidade de termos uma energia pré-paga como ocorre com os celulares? Exemplificou o especialista do ministério, ao citar iniciativas de REI em prática em algumas cidades europeias.
“Então isso é muito importante para o Brasil, vai aumentar a qualidade da energia na casa do consumidor. O que é possível com o uso de tecnologia da informação e comunicação nas redes elétricas, com colocação de transformadores e de chaves inteligentes, e de sistemas de computação. O relógio não vai ser mais um relógio, mas um microcomputador”, ressaltou o coordenador.
Ação integrada
O MCTI faz parte de um grupo interministerial que tem como foco fazer a política industrial e tecnológica para a implantação dos smart grids no Brasil. Fazem parte 17 instituições, além de especialistas de universidades nacionais e internacionais. O órgão é responsável pela formulação e pela implementação da Política Nacional de Ciência e Tecnologia, e tem promovido ações integradas e cooperadas para o desenvolvimento da CT&I na área de energia elétrica.
Entre os estudos realizados, está a publicação Redes Elétricas Inteligentes: Contexto Nacional, de 2012 – encomendado ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo ministério –, que teve por objetivo congregar uma visão panorâmica sobre as transformações nas redes de energia elétrica.
O MCTI fez também missões à Europa (Reino Unido, Alemanha, Espanha e Portugal), visando aumentar a cooperação internacional na área, o que resultou na realização de projetos de cooperação científica entre universidades. Em 2014, o ministério está envolvido no projeto Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil, que busca contribuir para o progresso e o aprofundamento da parceria estratégica e das relações bilaterais entre o Brasil e a União Europeia por meio do apoio ao intercâmbio de conhecimentos técnicos.
Texto: Denise Coelho – Ascom do MCTI