Os participantes discutiram as conclusões do IPCC. Foto: Giba/Ascom do MCTI
Em audiência pública no Senado Federal, nesta terça-feira (29), o secretário substituto de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Osvaldo Leal de Moraes, apresentou a parlamentares a estrutura do 5º Relatório de Avaliação, recentemente divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
A reunião da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, presidida pelo deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), teve a presença da vice-presidenta do Grupo de Trabalho 3 (mitigação) do IPCC, Suzana Kahn, e do representante da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sergio Margulis.
O representante do MCTI explanou sobre as dificuldades envolvidas no estabelecimento das equações do clima e sobre a estrutura do documento do IPCC, que tem como base o conhecimento científico e usa mais de 30 modelos para avaliar a trajetória e as tendências das mudanças climáticas no planeta.
“O último relatório aumentou o nosso conhecimento, e as incertezas diminuíram em relação ao anterior, no qual muitas projeções não eram feitas por causa de incertezas e de fontes de dados que não eram completamente disponíveis”, ressaltou Moraes. Em relação ao Brasil, o documento prevê, para os próximos 100 anos, aumento de temperatura para todo o país de forma não uniforme, além da redução das precipitações para o Nordeste e de mais chuva para a Região Sul. Há projeções também de impactos das mudanças climáticas de forma diferenciada na costa brasileira e na produção de alimentos.
Ao serem questionados pelos parlamentares sobre as incertezas ainda existentes e sobre a necessidade de dados mais específicos e regionalizados, os convidados informaram que, em breve, o Brasil terá o seu próprio modelo de escala global – projeto capitaneado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI) e realizado em parceria com universidades brasileiras.
Moraes explicou que os cenários de mudanças climáticas, inclusive as projeções feitas para o Brasil, são feitos a partir de modelos globais. O chamado Modelo de Sistemas Terrestres – que envolve as componentes como oceanos, superfície, criosfera e química da atmosfera – vem sendo desenvolvido por cientistas brasileiros e traz projeções para os próximos 100 anos.
“Esse modelo já existe, tem projeções até 2080, está perto de ser concluído e representa um esforço da ciência brasileira patrocinado pelo MCTI”, disse o representante do MCTI em entrevista após a audiência. “Antes nós usávamos modelos rodados no centro europeu ou nos Estados Unidos como condição de contorno para fazer as nossas projeções regionais. Agora, para o próximo IPCC, o Brasil vai ter o seu próprio modelo e será um dos autores-chaves no relatório”, adiantou.
Alterações globais
Suzana Kahn comentou a estrutura dos relatórios do IPCC, que além do documento principal (com cerca de mil páginas) possui um sumário técnico que aborda aspectos considerados politicamente relevantes. Para a cientista, o relatório inovou na quinta edição ao destacar a adaptação como importante além das ações de mitigação. Ela também ressaltou a abordagem sobre a responsabilidade sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A cientista alertou para o crescimento das emissões, que alcançaram a marca histórica de 49 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente em 2010. E pontuou que os combustíveis fósseis responderam por 80% do aumento, o que, na sua opinião, torna a questão do aquecimento global um problema no uso de energia. “O problema é a demanda de energia por conta de um padrão de consumo dos países ricos e perseguido pelos países em desenvolvimento”, disse.
Ela lembrou, ainda, que as mudanças recentes das emissões relacionadas com a energia se devem também ao aumento do uso do carvão e da intensidade de carbono no setor industrial. Outra preocupação é que, apesar do crescimento, o uso das energias renováveis ainda é “muito dependente do suporte e do apoio governamental”.
Para Sergio Margulis, é preciso preparar o Brasil para o desenvolvimento pensando em mudança climática. Para ele, as informações ainda são muito teóricas, o que dificulta a tomada de decisão. “Não há uma evidência assegurada sobre quais serão os impactos por regiões e ecossistemas”, disse o representante da Presidência da República.
Na avaliação do deputado Alfredo Sirkis, ficou clara a importância das informações apesar das incertezas quanto aos cenários projetados. “Se por um lado o grande rigor científico do IPCC nos conforta com a certeza de que o melhor da ciência está ali, por outro lado, é uma situação que cria fragilidades no embate político”, comentou o parlamentar, ao citar posições que questionam a responsabilidade da ação humana no aquecimento global.
“Pode ser que a ciência não tenha respostas para todas as questões, mas se ela não tiver essa informação, esta não estará em nenhum outro lugar”, concluiu Osvaldo Leal de Moraes.
Texto: Denise Coelho – Ascom do MCTI