O Cbers-3. Ilustração: Divulgação/Inpe
Quarto de sua linhagem, o satélite de sensoriamento remoto CBers-3 deve permitir um acompanhamento mais preciso e sistemático de problemas como queimadas e desflorestamento, da situação dos recursos hídricos, da produção agrícola e da expansão das cidades. O equipamento tem
lançamento marcado para a madrugada de segunda-feira (9), na China.
“O leque de usuários pode ir desde um graduando de geografia que precise fazer seu TCC [trabalho de conclusão de curso] aos órgãos federais que acompanham o desmatamento na Amazônia, passando pelo Ministério Público e por prefeituras”, lista o engenheiro e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI) José Carlos Epiphanio. Ele é o coordenador de Aplicações do Programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (em inglês, China-Brazil Earth Resources Satellite, de onde vem a sigla CBers).
As imagens e os dados serão empregados, por exemplo, em projetos nacionais como o Sistema de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes) e o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo real (Deter), que são operados pelo Inpe e embasam a fiscalização pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Desde que o CBers-2B interrompeu suas atividades, os dois sistemas se apoiam no sensoriamento de satélites estrangeiros.
Epiphanio destaca o potencial da ferramenta para o acompanhamento da aplicação do Código Florestal, tanto para os proprietários como para o governo e a Justiça. “O fazendeiro ou produtor rural poderá acessar por conta própria a imagem que lhe permitirá saber se está cumprindo a legislação ambiental quanto às cabeceiras de drenagem, por exemplo”, comenta, acrescentando que assim se pode evitar a necessidade do uso de um avião para registrar o local com fotos ou da contratação de uma equipe para fazer medições.
O CBers-3 está equipado com um conjunto de câmeras de perfil variado, com desempenhos melhorados em relação aos anteriores. São quatro imageadoras: de amplo campo de visada (WFI) e de média resolução (MUX), desenvolvidas no Brasil; e de infravermelho (IRS) e de alta resolução (PAN), de tecnologia chinesa. Neste satélite a participação brasileira aumentou para 50% – até então era de 30%.
Prevenção
Também a prevenção diante de desastres naturais deve ganhar um reforço. “Se uma barragem se rompe em Goiânia e o satélite está passando sobre Brasília, a gente imediatamente fica sabendo, e pode deslocar a câmera PAN para que fotografe aquela cidade”, exemplifica. “Assim garantimos, quase imediatamente, imagens em boa resolução para embasar medidas de defesa civil.” Ele explica que isso se deve ao recurso de visada lateral, que possibilita atingir uma faixa entre 350 e 400 quilômetros fora do traço do satélite.
Os dados da família CBers têm hoje mais de 70 mil usuários de mais de 3 mil instituições, informa o Inpe. Entre elas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além do Ibama.
Desde 2004, as informações produzidas pelo programa são distribuídas gratuitamente pela internet. “Quando fizemos isso, recebemos um tsunami de pedidos, revolucionamos o mercado”, conta José Carlos Epiphanio. “Outros países nos seguiram e hoje o padrão é de uso gratuito para essa classe de dados.” No Brasil já foram distribuídos mais de 1 milhão de dados e imagens produzidos pelos CBers. Cerca de 50 países estão cadastrados como usuários.
O pesquisador do Inpe diz que o Brasil tem interesse em monitorar as florestas tropicais africanas e poderia, em função de futuros acordos, dedicar parte de seu esforço de cobertura a outros países latino-americanos.
Indústria
Do ponto de vista da indústria nacional – um dos focos do programa – o engenheiro explica que a expectativa reside mais na projeção das empresas fornecedoras que na possibilidade de produção em série dos itens desenvolvidos. “Se elas vão participar de uma concorrência internacional, por exemplo, isso conta muito a favor”, diz. “Apresentamos a demanda e a indústria tem que se virar, o que gera capacidade de inovar.”
Ele lembra também a possibilidade de qualificação dos profissionais envolvidos. “Temos, por baixo, 50 engenheiros de alta capacidade em tecnologia espacial trabalhando na iniciativa”, diz.
Leia mais sobre o programa binacional.
Texto: Pedro Biondi – Ascom do MCTI