A ciência, tecnologia e inovação tem feito a diferença na vida de pequenos agricultores no Mato Grosso do Sul, onde a bioenergia passou a ser uma parceira no desafio de tornar a produção mais rentável e com menos impacto ambiental.
O projeto Sistemas Intensivos e Integrados nas Fazendas para os Pequenos Agricultores, de São Gabriel do Oeste, transforma resíduos da indústria suína em produtos, energia e nutrientes e é apontado como referência em publicação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
A iniciativa faz parte de estudo recente da FAO, Biotecnologias no Trabalho para os Pequenos Agricultores: Estudos de Caso em Lavouras, Pecuária e Pesca nos Países em Desenvolvimento, que abrange 19 experiências que usam uma ampla gama de biotecnologias.
O programa brasileiro baseou-se na ideia de que é possível usar as tecnologias de bioenergia para transformar a poluição da indústria suína em produtos rentáveis e úteis, promover saldos favoráveis de energia, água e nutrientes e aumentar substancialmente a receita dos moradores do assentamento.
O projeto contou com R$ 850 mil do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec), e R$ 556 mil da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Com o títuto Intensive and Integrated Farm Systems Using Fermentation of Swine Effluent in Brazil, o estudo é assinado na publicação da FAO por Ivan Bergier (Embrapa), Eduardo Soriano (Setec/MCTI), Guilherme Wiedman (Secis/MCTI) e Adilson Kososki, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O projeto
A iniciativa de integração de sistemas foi coordenada pela Embrapa Pantanal e desenvolvida em conjunto com a Cooperativa Agropecuária São Gabriel do Oeste (Cooasgo) e uma empresa local, a Retificadora Centro Sul. A experiência envolveu 142 famílias num espaço de 2.850 hectares do assentamento Campanário, no município sul-mato-grossense.
Na avaliação de Eduardo Soriano, que é coordenador geral-interino de Tecnologias Setoriais do MCTI, a grande vantagem do projeto é que ele permitiu múltiplos ganhos. Para isso, explica ele, foram desenvolvidas tecnologias que possibilitaram, a partir de dejetos de porcos, produzir biogás – por meio do processo de biodigestão anaeróbica -- para a geração de energia, para a dispersão de biofertilizantes líquidos e para a produção de biofertilizantes.
"O mais interessante disso é que foi possível formular receitas de biofertilizante para a sua utilização em várias culturas", ressalta o coordenador-geral. "Com essa experiência foi possível fechar a cadeia produtiva da suinocultura, resultando numa agricultura de baixo carbono e menor impacto para o meio ambiente", avalia.
Para Soriano, a realização do projeto no bioma do Pantanal se reveste de fundamental relevância pelo deslocamento de parte da produção suína do Sul do Brasil para o Mato Grosso do Sul e outros estados do Centro-Oeste, o que acarreta grandes impactos ambientais.
"Nas produções em pequena e média escalas, é uma prática comum os dejetos dos porcos serem deixados no meio ambiente sem qualquer tratamento", ressalta. "Isso aumenta as emissões de gases de efeito estufa, bem como contamina o solo e oferece, inclusive, riscos para o Aquífero Guarani, que nessa região possui uma camada muito fina de proteção", sustenta.
Incentivo
Um dos objetivos da FAO com a publicação dos estudos é incentivar esforços que busquem na biotecnologia agrícola uma forma de melhorar os meios de subsistência e a segurança alimentar dos pequenos produtores de países em desenvolvimento, além de informar e ajudar os políticos na tomada de decisões sobre o assunto.
"Com ajuda institucional e financeira adequadas, governos, instituições de pesquisa e organizações podem ajudar a levar biotecnologia para pequenos produtores, melhorando a sua capacidade de lidar com desafios como alterações climáticas, enfermidades de plantas e animais e o uso excessivo dos recursos naturais", afirma a chefe da Unidade de Pesquisa e Extensão da FAO, Andrea Sonnino.
Acesse o
estudo internacional, em inglês (o caso brasileiro está descrito a partir da página 109).
Texto: Denise Coelho -- Ascom do MCTI, com informações complementares da ONU Brasil