A ciência pode soar como música, nos ouvidos dos estudantes. É com essa ideia que o diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ildeu Moreira, pretende mostrar que a arte pode ser uma aliada poderosa para o aprendizado da ciência pelos estudantes, removendo de vez a imagem negativa dessa matéria escolar.
Para Moreira – que apresentou o tema da ciência nas letras das músicas ao longo da história, em palestra na 64ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) –, o contato com diferentes ritmos, melodias e letras de canções sobre o tema pode ajudar na popularização de assuntos científicos.
Por meio da música, é possível memorizar, de forma divertida, fatos históricos, a biografia de cientistas de expressão histórica, assim como acompanhar a evolução da ciência no tempo. “Vocês vejam a capacidade que tem a música para ajudar, nós temos que explorar isso na educação, fazer este ambiente mais interessante para as crianças e jovens, isso é criativo e desmistifica aquela ideia de que ciência é aquela coisa fechada, chata”.
O diretor do MCTI conta o episódio de uma escola de samba carioca, que utilizou, em seu desfile de 2004, um samba enredo contendo citações que remetem à evolução científica no mundo. “Na época, discutimos com o carnavalesco, na Casa de Ciência, como o carnaval poderia ilustrar a forma criativa que a imaginação científica constrói o mundo”. O fio condutor do enredo, acrescenta, era “a máquina do tempo, um carro alegórico sobre o dna que permitia ir e voltar na história, e que acabou ganhando destaque nos jornais em todo o mundo”. Só para ilustrar, ele complementa: “Um ganhador do prêmio Nobel de Química participou do desfile trajado de Santos Dumont”.
Outra escola de samba, lembra Ildeu Moreira, também caiu no gosto popular, ao levar para o desfile a representação do cientista responsável pela teoria de evolução evolucionista. “A escola de samba, que retratou Darwin e suas descobertas, foi eleita pelo júri popular em 2011 como a que apresentou o melhor carnaval”. O diretor do MCTI entende que esses fatos reforçam a tese de que é possível popularizar a ciência por meio da arte. “Nós queremos mostrar ao imaginário das pessoas que esta realidade existe e que o cientista tem cultura, abandonando a imagem deturpada da relação da ciência com a sociedade”.
PrêmioEle cita, ainda, o ex-ministro da Cultura, compositor e cantor Gilberto Gil, que ganhou o prêmio Grammy for World Music, na 41º edição, em 1998, na categoria Melhor Álbum com Quanta Live e suas composições que misturavam terminologias utilizadas por cientistas e nomenclaturas de hábitos, alimentos e religião, utilizados rotineiramente por todas as camadas da sociedade. Um trecho da música, que nomeia o álbum, exemplifica como esta mistura pode ocorrer de maneira simples. “Fragmento infinitésimo, quase que apenas mental, quantum granulado no mel, quantum ondulado do sal, mel de urânio, sal de rádio, qualquer coisa quase ideal”.
Ao reproduzir a música Rosa de Hiroshima, de Vinícius de Morais e Gerson Conrad, gravada em 1973, o palestrante lembrou ainda que os avanços científicos podem representar perigo, se utilizados de forma irresponsável. “Eu acho que esta música é impactante porque ela lembra que a ciência pode matar. Em questão de minutos, 100 mil pessoas morreram neste episódio. Eu acho que não podemos esquecer que 40% ou mais da pesquisa científica no mundo é feita para a guerra. Se 10% deste montante de recurso e energia fosse utilizado para acabar com a fome no mundo, resolveria este problema, ou salvava as milhares de crianças que morrem de disenteria. Isso nós não podemos deixar de discutir”, concluiu Ildeu Moreira.
Texto: Ricardo Abel – Ascom do MCTI