Carlos Martinez Ruiz, da UFMA: cruzada geográfica Foto: Zé Luiz Cavalcanti
27/07/2012 - 11:13
Encravado entre a Amazônia, a Caatinga e o Cerrado, o Maranhão ainda se divide por biomas de transição, como mata de cocais, manguezal e restinga. “Isso leva a uma forte ebulição biológica, um caldeirão fervendo com as características de todas essas regiões”, definiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Adalberto Luis Val, ao coordenar uma mesa-redonda sobre o assunto na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), nesta quinta-feira (26), em São Luís.
“O Maranhão se constitui talvez numa das regiões mais interessantes de transição entre um bioma e outro, uma porta de entrada para a Amazônia, uma terra muito rica do ponto de vista biológico”, disse Val. “E nós biólogos costumamos chamar isso de mina de ouro biológica. Eu diria que é um sonho de consumo de qualquer profissional da área trabalhar nesses ambientes, para tentar entender os processos todos que acontecem no seio da região.”
Para o pesquisador Carlos Martínez Ruiz, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), essa “cruzada geográfica” se traduz em uma elevada biodiversidade. “Aqui, temos entre 700 e 800 espécies de aves, 40% do total encontrado no país”, informou. “Como a Europa tem 600 espécies, o estado do Maranhão sozinho tem mais variedade de aves que um continente inteiro.”
“Mas o que a gente tem certeza é que as interações entre biomas não se limitam à biodiversidade, são mais complexas”, pondera Ruiz. “Essa circunstância ainda permite a entrada de uma série de situações, como estradas e tudo que isso comporta em termos civilizatórios e no uso de recursos produtivos – o que se reflete em problemas ambientais.”
Hotspot
Já Gustavo Martinelli, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e coordenador do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), apontou para o conceito de hotspot (ponto quente, em inglês), que caracteriza biomas com “extrema riqueza biológica, geralmente associada a um grande processo de destruição”. “No Brasil, a definição caracteriza a Mata Atlântica, que chega ao Maranhão pelo litoral leste, e o Cerrado, também presente.”
Embora lamente o desmatamento causado por carvoarias, agronegócio e tráfico de madeira, Carlos Martínez Ruiz, da UFMA, deposita grandes esperanças nas particularidades da região. “O Maranhão tem um enorme potencial estratégico para recuperar um montão de floresta e fixar um montão de carbono”, afirmou. “Tanto quanto foi desmatado é o tanto que nós podemos recuperar.”
Texto: Rodrigo PdGuerra – Ascom do MCTI