E.Soriano/MCT - Os debates na UFPE foram bastante concorridos.
Novas tecnologias para produção de calor e eletricidade a partir da energia solar de alta temperatura e as perspectivas para inserção dessa forma de energia na matriz energética brasileira foram temas debatidos nos últimos dias 8 e 9 no Workshop Sobre Usinas Solar Termoelétricas, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife (PE).
O evento foi organizado pelo grupo de Fontes Alternativas de Energia (FAE) da UFPE e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) como parte do Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): Geração solar termoelétrica com concentradores cilíndrico parabólicos no semiárido do nordeste do Brasil.
O workshop teve a participação dos principais grupos de pesquisa, empresas públicas e privadas do setor energético, representantes dos ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e Minas e Energia (MME) e de empresas entre as quais a Abengoa, que apresentou as tecnologias de cilindro parábola e torre solar; ACS Cobra, com cilindro parábola e torre solar; Tessera, com disco parabólico usando motores Stirling, e Areva-Kolblitz, com refletor linear Fresnel.
Foi consenso entre os palestrantes que a introdução dessa tecnologia no Brasil abriria grandes oportunidades para a indústria nacional, pois seria possível atingir índices de nacionalização da ordem de 60%, o que refletiria diretamente na geração de empregos e na possibilidade de exportação de partes e peças.
Outros pontos destacados foram que a tecnologia necessita ainda passar por uma fase de aprendizagem de modo a competir com as outras formas de energia; que o Brasil precisa inserir a energia solar no seu planejamento energético de modo a dar segurança aos investidores e que esta forma de energia apresenta certa complementariedade com a energia hídrica.
Também teve unanimidade o entendimento de que o Brasil precisa dispor de uma série de estratégias para se apropriar da tecnologia solar de alta temperatura. Entre elas foram citadas a criação de um programa de Pesquisa Desenvolvimento e Inovação (PD&I) de longo prazo; implantação de uma central de geração de energia experimental com potência entre 1 e 5 MW na região Nordeste; criação de um consórcio para implantação da central de geração de energia experimental e de um laboratório multiusuário; capacitação laboratorial e formação de recursos humanos nas universidades e institutos de ciência e tecnologia; inserção da energia elétrica gerada por fonte solar de alta temperatura no planejamento energético brasileiro; criação de incentivos e legislação especifica, e difusão da energia solar de alta temperatura nos organismos de licenciamento ambiental.
Plano
Para dar suporte à questão da energia solar de alta temperatura no País, o MCT já trabalha desde 2009, com o suporte dos pesquisadores Naum Fraidenraich e Tiba Chigueru, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em um plano de pesquisa desenvolvimento e inovação em energia solar de alta temperatura.
A primeira ação desse plano foi a aprovação junto ao Fundo Setorial de Energia Elétrica (CT-Energ) de recursos para dar início a um consórcio para a construção da primeira central de geração de energia por fonte solar de alta temperatura envolvendo diversas instituições, entre as quais o MME, Eletrobrás, Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), Chesf e UFPE.
Eduardo Soriano e Marcos Costa, ambos do MCT, informaram “que poucos grupos de pesquisa atuam nessa área e, dessa forma, a construção de uma central de geração de energia por fonte solar de alta temperatura associada a um laboratório multiusuário criaria um espaço para formação de recursos humanos e desenvolvimento de tecnologia que são itens imperativos para a inserção dessa forma de energia na matriz energética nacional. Esse modelo de associar uma planta de energia a um laboratório de pesquisa é muito comum na Espanha como, por exemplo, as plataformas de Solúcar.”
Roberto Meira, do MME, mostrou-se otimista com a tecnologia e com o potencial brasileiro, mas alertou “que a tecnologia deve passar por uma curva de aprendizagem (como a energia eólica passou) de modo a contribuir com a modicidade tarifária brasileira”.