Crédito: AEB - Thyrso Villela – diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento
É praticamente impossível imaginar hoje o mundo sem satélites. Eles estão presentes em muitas atividades de uma forma direta ou indireta. Assistir televisão, se informar sobre a previsão do tempo, saber que regiões do território nacional estão sendo desmatadas ou descobrir como o Sol pode influenciar de maneira drástica a vida na Terra são atividades corriqueiras hoje em dia, mas que têm os satélites como principais responsáveis por elas.
De tão associadas ao nosso dia-a-dia elas passam despercebidas por muitos. Isso, de certa forma, impossibilita que a importância dos satélites seja reconhecida de modo claro por vários setores da sociedade. Pior, nem sempre são percebidos os potenciais de riqueza que os satélites e suas aplicações podem gerar.
Existem várias formas de aplicação relacionados a satélites. As mais comuns são aquelas ligados às comunicações, às atividades militares, ao meio ambiente, que englobam sensoriamento remoto e meteorologia, à navegação e posicionamento, às aplicações científicas, responsáveis pelo avanço colossal do conhecimento humano e pela percepção de que o meio ambiente em que vivemos é também influenciado pelo Sol, Via Láctea e outras regiões longínquas do universo.
Em termos econômicos, o mundo dos satélites não se restringe apenas à construção desses artefatos. Outros três setores também são responsáveis pela geração de riqueza envolvida nesse segmento de alta tecnologia e alto valor agregado: os equipamentos de solo, necessários para a operação e controle dos satélites, os lançadores e os serviços associados às aplicações que eles possibilitam.
A indústria de satélites apresenta números que mostram a sua importância econômica: em 2007, por exemplo, cerca de 257 mil pessoas estavam empregadas em atividades relacionadas a satélites nos EUA; ela cresceu em média 14% por ano no período entre 2003 e 2008, de acordo com a Satellite Industry Association, e gerou uma receita de cerca de US$ 144 bilhões em 2008. Desse montante, 3% vêm dos lançamentos desses artefatos, 7% de sua construção, 32% relacionados ao segmento solo e 58% aos serviços e aplicações que esses satélites proporcionaram. Espera-se que para 2009, cujos dados ainda são compilados, o crescimento do setor em relação a 2008 tenha sido da ordem de 19%. São números expressivos que mostram a relevância desse setor para a economia.
Dominamos, no Brasil, vários segmentos da construção de plataformas para satélite, mas ainda precisamos avançar na construção de cargas-úteis, como as relacionadas a sensoriamento remoto, meteorologia e experimentos para aplicações científicas de um modo geral. O segmento relacionado às cargas-úteis é onde se concentram, em geral, os maiores avanços tecnológicos e as maiores inovações. Algumas dessas inovações são testadas em satélites científicos. Eles servem para avançar as fronteiras do conhecimento humano, proporcionar o treinamento rápido de pessoal para a área espacial e para desenvolver novas tecnologias, como foi o caso das células solares de tripla junção testadas pela primeira vez no espaço em uma missão cientifica e que hoje são largamente usadas em vários modelos de satélites.
Os satélites e as aplicações decorrentes de seu uso são importantes devido ao grande potencial que têm para solucionar problemas de alto interesse da sociedade, como aqueles ligados à defesa civil, e de impulsionar o crescimento de vários setores da economia, por meio, por exemplo, de spin-offs.
A atividade ligada a satélites gera empregos em vários setores da economia, não se limitando apenas àquelas diretamente ligadas ao próprio setor. Portanto, é urgente que a atividade espacial seja bastante estimulada no Brasil. Mesmo contando com poucos profissionais em comparação com outros países, o País tem hoje um capital humano, tanto nos institutos de pesquisa e universidades quanto nas empresas, altamente qualificado e capaz de responder a esse desafio. É necessário que todos percebam essa importância, de modo que argumentos imediatistas não sejam lançados contra o objetivo de se dominar as tecnologias associadas a essa atividade.