O Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg/MCT), desde 2006, apoia a prática de falcoaria nas dependências do Parque Zoobotânico, uma iniciativa que ajuda os animais que chegam debilitados ao Parque Zoobotânico e permite as atividades de dois estudantes de biologia apaixonados pelas aves de rapina. Marcos Cruz e Felipe Furtado têm o apoio do médico veterinário Messias Costa, do Museu, para aplicar técnicas de falcoaria, prática de adestramento de aves de rapina, no processo de reabilitação e tratamento de corujas, gaviões e falcões.
A falcoaria, que há cerca de quatro milênios é aplicada à caça, e que, posteriormente, foi adaptada à prática esportiva, “é utilizada como um meio para o condicionamento físico das aves de rapina”, explica Cruz, um dos falcoeiros. “No Museu Goeldi desenvolvem-se essas técnicas de treino para ajudar na reabilitação, no condicionamento das aves e na própria educação ambiental, afinal, essas técnicas podem ser aplicadas em demonstrações públicas dos hábitos naturais de uma ave”, complementa. Segundo ele, esse trabalho com o MPEG “existe há três anos, e é pioneiro no Norte no desenvolvimento dessa técnica”.
Aves são trazidas ao Museu, em especial quando vitimadas de mau trato, debilitadas por problemas nutricionais e/ou traumáticos. Só após a avaliação e recuperação do animal entra a falcoaria para promover o seu condicionamento físico, que também lhe permite uma melhor recuperação geral, inclusive ajudando-a a reaprender algumas funções básicas, como o vôo e a caça. Messias Costa explica que “esses, são animais que, em cativeiro, têm tendência à obesidade, mas quando praticam exercícios, mantêm o peso e garantem uma melhor qualidade de vida.”
Ainda segundo o veterinário, “em alguns casos, com domínio das técnicas de caça, os animais ainda podem voltar à condição natural, se forem aves urbanas”. A falcoaria para Costa, traz um benefício adicional, pois “as aves passam a cumprir uma importante função de educação ambiental.”
O trabalho dos falcoeiros inclui rotina de exercícios com os animais, cujo primeiro passo é promover a aceitação do treinador pela ave no que se denomina “amansamento”. Envergando a indumentária completa - luvas, capuz, guizos - o treinador estimula a ave a se alimentar e a subir em seu punho. Quando isso ocorre, estimula-se o vôo, chamando-a de um determinado ponto para o punho. Quanto melhor for a resposta, mais se aumenta a distância do vôo. O próximo passo é a apresentação de uma isca para despertar o instinto caçador. O último passo é a captura de um animal vivo.
Tempo
O treinamento não é um processo com duração bem definida ou cronograma específico, depende da ave e da percepção do treinador. Em uma ave selvagem, só o amansamento dura cerca de um mês. Já em uma ave que teve contato com pessoas logo nos primeiros meses de vida, o processo é mais curto e pode durar cerca de um mês.
Segundo Cruz, ao final de todo esse trabalho, há condições necessárias para se soltar a ave no próprio espaço do Parque Zoobotânico, uma vez que se tratam, em sua maioria, de espécies urbanas, como gaviões-pega-pinto e corujas das torres. Ele calcula que cerca de 25 aves rapina de dez espécies já foram treinadas nesses moldes.
Parceria
Cruz e Furtado estudam as aves de rapina desde a adolescência, quando convidaram um amigo e começaram, por iniciativa própria, pesquisar a coruja suindara, mais conhecida como rasga-mortalha. A recompensa por esse esforço veio em 2004, quando ganharam a segunda colocação no Prêmio José Márcio Ayres, competição promovida pelo Goeldi desde 2003 e que identifica e premia talentos científicos precoces. O trabalho dos rapazes chamou a atenção do médico Messias Costa, que, verificando seu talento e empenho no estudo das aves, convidou-os para acompanhar o tratamento e o monitoramento de aves visitantes no Parque Zoobotânico.
Posteriormente, a parceria passou a concentrar-se nas aves de rapina, sobretudo em razão das próprias demandas do Museu, uma vez que as “aves de rapina representam a grande maioria dos animais que existem como fauna urbana e são muito mutiladas. É o grupo que sofre mais no meio urbano em Belém.”, explica Costa.
Falcoaria
Praticar a falcoaria não é barato. Exige bastante estudo e um considerável investimento em material. O equipamento básico é composto por um poleiro em arco, apito, luva, capuz (material feito com couro de canguru), fiador e guizo. E ainda há a necessidade de livros que, em geral, são importados.
Para a realização das atividades no Parque do Museu Goeldi, os estudantes custeiam o material necessário com exceção do poleiro em arco, cedido pelo Museu. O MPEG, além de ceder o espaço, permite o contato direto com os animais, bem como a orientação dos profissionais do Parque.