Uma questão permeou os estudos pioneiros com o uacari-branco, também conhecido como macaco-inglês, na várzea do Médio Solimões e do Japurá foi: por que ele é o único frugívoro (que se alimenta de frutos) dentre os primatas neotropicais capaz de viver nas florestas alagáveis de várzea e por que não ocorre em terra firme? A especialização na predação de sementes de frutos imaturos foi considerada como um fator essencial na sobrevivência da espécie nesse tipo de ambiente.
Para saber mais sobre a dieta da espécie e discutir aspectos de seu comportamento alimentar, o pesquisador Felipe Ennes Silva, do Grupo de Pesquisa em Ecologia de Vertebrados Terrestres, do Instituto Mamirauá, realizou esse trabalho de acompanhamento e análise.
Um grupo de uacaris vem sendo acompanhado desde 2012, em meses não consecutivos. Até o momento, foram plaqueadas 70 árvores e quatro cipós, somando 28 espécies usadas na dieta do uacari. Sementes foram 62,2% dos itens consumidos, seguidos por 15,5% de fruto, 13,3% de talo de folha e 4,5% de flores e folhas.
Os itens identificados na dieta foram registrados sempre que possível e as árvores ou cipós usadas como alimentação foram plaqueadas e medidas em relação à altura e ao diâmetro à altura do peito. Amostras das espécies de árvores e cipós foram coletadas para posterior identificação. Sempre que outros primatas eram encontrados na mesma área dos uacaris registravam-se os tamanhos dos grupos e o item alimentar consumido.
Segundo Silva, outras espécies de primatas são encontradas na área de estudo. O macaco-prego e o macaco-de-cheiro são considerados mais generalistas em relação à dieta. O guariba tem uma dieta ampla baseada principalmente em folhas e frutos. No entanto, o macaco aranha e o parauacu são considerados frugívoros. O primeiro tem uma dieta estritamente frugívora e o segundo é um frugívoro especializado em predação de sementes. “Mais estudos são necessários nesta área para sabermos se a presença de espécies potencialmente competidoras influencia no comportamento alimentar do uacari-branco”, afirma o pesquisador.
Texto: Ascom do Instituto Mamirauá