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Debatedores analisam o conceito e os desafios da sustentabilidade
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Carlos Nobre ressaltou a viabilidade de conter as mudanças climáticas. Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
17/04/2014 - 17:08
O desenvolvimento sustentável foi duplamente discutido em seminário na 2ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília. Tanto as ameaças e possibilidades para o modelo quanto a origem e a transformação do conceito foram analisados pelo presidente de Gana, Johan Dramani Mahama, pelo escritor Mia Couto e pelo climatologista Carlos Nobre, com mediação da jornalista Rosana Jatobá. 

As mudanças globais, especialmente as de ordem climática, dominaram boa parte do debate nesta quarta-feira (16), que teve como tema “A utopia do desenvolvimento sustentável e a sociedade global”. As análises partiram de afirmação da moderadora de que a crise ambiental é a maior que o planeta vive hoje, e que o desenvolvimento sustentável preconiza a satisfação das necessidades da população atual sem comprometer a das futuras gerações.

Questionado sobre os alertas e as recomendações dos últimos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Carlos Nobre apontou riscos imensos, possibilidade de redução e paralisia em torno do problema. “Os riscos que estamos colocando para o mundo para as próximas décadas, séculos, milênios são muito grandes”, disse. “Nós o estamos colocando em trajetória de terra incógnita.”

O cientista, que é secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), ponderou que o ser humano, com base em sua inteligência e nas tecnologias que é capaz de criar, destaca-se pela resiliência, consegue se adaptar a modificações ambientais intensas. “Mas até para nós há limite. E não estamos sozinhos no planeta”, frisou, lembrando que o IPCC prevê a extinção de até 40% das espécies se não houver redução nas emissões de gases de efeito estufa, que agravam o aquecimento global.

Nobre observou que os documentos recentes do painel das Nações Unidas reduziram a estimativa de custos das mudanças que conteriam o aquecimento. “Em áreas-chave como energia, alimentos e recursos hídricos, o custo é marginal”, disse. “Há uma inércia global, das instituições, que não sei de onde vem.”

Segundo o climatologista, há pesquisadores sérios que põem em dúvida o processo, mas eles são 0,1% dos opositores. “A maioria está defendendo a indústria fóssil – de carvão, por exemplo –, fazendo o papel que médicos a serviço da indústria do cigarro fizeram décadas atrás quando afirmavam não haver relação conclusiva entre o tabagismo e problemas de saúde.” Ele avaliou que essas vozes conseguirão apenas atrasar a legislação que faria avançar a adoção das fontes renováveis de energia, mas que cada década perdida nesse sentido pode significar 0,5 grau Celsius a mais de aquecimento, com agravamento dos desastres naturais.

Nomes e valores

Mia Couto disse ter uma grande suspeita em relação “ao jargão desenvolvimento sustentável”, que escamotearia o verdadeiro debate. “É uma espécie de efeito de cortina. Ficamos a discutir algo que é um vestuário, uma panaceia, um remédio, quando existe uma questão de fundo”, ponderou. “Este sistema não está mal porque não funciona bem, não é isso. Ele produz miséria, desigualdade, degradação ambiental. Produz rupturas em modos de vida que, esses sim, poderiam ser sustentáveis.”

Ele observou que o modelo em questão “não tem nome, perdeu o nome”. “Chama-se sociedade global, sociedade de mercado... Capitalismo, esse é o nome.”

O escritor – que é biólogo e se declarou um péssimo cientista – também examinou criticamente a palavra “desenvolvimento”. “Aquilo que é uma afirmação positiva de uma ação, construção, tem uma negação, é construído por uma negação. Des-envolver passa a ideia de um núcleo central que tem que ser descascado para alguma coisa dali surgir.” Ele disse que essa negação em geral diz respeito à identidade dos povos que foram sendo expropriados pelo sistema capitalista. E ressaltou a origem do termo “desenvolvimento” na biologia – mais precisamente, no darwinismo, em associação com o entendimento de que os mais fortes vencem os mais fracos.

Couto criticou, ainda, a compreensão do homem apartado da natureza e como proprietário dela, que refletiria uma postura patriarcal.

Carlos Nobre, por sua vez, mostrou-se otimista quanto à evolução semântica dos termos em questão e o que ela expressa no imaginário da sociedade. “’Sustentável’ e ‘sustentabilidade’ inicialmente representaram uma atenuação de uma força enorme nos séculos 19 e 20 que foi o desenvolvimento. A apropriação dos recursos naturais para benefício da nossa espécie passou dos limites e os termos trouxeram algum limite. Mas eles vêm ganhando força própria”, disse.

Ele opinou que, dentro de algumas décadas, a sustentabilidade ganhará um lugar semelhante ao de valores como igualdade, justiça e felicidade.

Repensar padrões

Historiador por formação, Johan Dramani Mahama chamou atenção para a necessidade de repensar estilos de vida. “O home está envenenando a terra. Temos que fazer um link entre ciência e sociedade, repensar o que é o conceito de felicidade ou de saúde”, exemplificou. “O Mark Zuckerberg [dirigente e um dos fundadores da rede social Facebook] é mais feliz que um índio na floresta tropical?”

O presidente apontou um processo de ocidentalização que vem difundindo a cultura do consumismo na África e pontuou que não seria ambientalmente viável todos os países se desenvolverem seguindo esse padrão. Ele citou mudanças já perceptíveis nos ciclos naturais em seu país, como as estações do ano.  

 “As projeções são de que o mundo terá 9 bilhões de habitantes em 2050 e que a produção de alimentos terá de crescer 70%”, lembrou. “Este é o único planeta que teremos para viver.”

 

Texto: Pedro Biondi – Ascom do MCTI (atualizado às 20h40)

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Johan Dramani Mahama alertou para a necessidade de repensar padrões. Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
Johan Dramani Mahama alertou para a necessidade de repensar padrões. Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
Mia Couto criticou o conceito de
Mia Couto criticou o conceito de "desenvolvimento sustentável". Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
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