Os livros trazem resultados dos esforços realizados por uma rede de pesquisa na área de políticas C&TI. Foto: Giba/Ascom do MCTI
A apresentação de cinco publicações inéditas sobre os Brics encerrou a programação do Seminário Brics: Sistemas de Inovação e Desenvolvimento nesta quarta-feira (26), em Brasília.
Os livros trazem resultados dos esforços realizados, nos últimos dez anos, por uma rede de pesquisa na área de políticas de ciência e tecnologia e de sistemas de inovação – um trabalho que contou com a participação de pesquisadores dos cinco países que integram o bloco: Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul.
Uma síntese sobre o material foi apresentada no último painel do evento pelo coordenador do grupo e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, José Cassiolato, que mediou o debate ocorrido na Universidade de Brasília (UnB).
Ele explicou que as publicações apresentam as características dos sistemas de inovação de cada país, além de informações sobre o papel do Estado e das empresas, questões relacionadas a desigualdades e tendências.
“É uma peça de conhecimento registrado que representa uma oportunidade e um aprendizado sobre as experiências em nossos países", afirmou o representante da Rússia, Stanislav Zaichenko, ao destacar a necessidade de uma ferramenta de apresentação dessas informações de maneira a conscientizar pesquisadores, empresas e elaboradores de políticas públicas.
Pluralidade e confiança
Política industrial, sustentabilidade, mudança de paradigmas, importância das compras públicas para a inovação, questões territoriais e sociais pontuaram as discussões durante os dois dias do seminário, realizado no Instituto de Ciências Biológicas da UnB. O evento contou com a participação de 15 pesquisadores dos cinco países, além de um público estimado em 150 pessoas, entre acadêmicos, gestores públicos e estudantes.
Para Cassiolato, o evento cumpriu com o seu objetivo, ao discutir desafios e tendências na área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) para o bloco. No último painel, o pesquisador da UFRJ destacou a importância dos Brics em um cenário duradouro de crise internacional. “O papel dos Brics é absolutamente central. Cabe a esses países, que estão em intensa transformação, ter um papel muito mais ativo".
Rasigan Maharajh, representante da África do Sul, ressaltou a importância do exercício para o estabelecimento da confiança entre os países. "Não apenas uma agenda foi elaborada por analistas de fora dos Brics, contando o que é o grupo, mas os Brics também amadureceram e desenvolveram um nível de confiança que ficou muito evidente".
O membro da Academia Chinesa de Ciências, Xielin Liu, tratou sobre as diferentes estratégias adotadas por multinacionais do Sul e do Norte e as dificuldades de inserção nos mercados dos países desenvolvidos.
“Nossos modelos de multinacionais podem ser impulsionados nos Brics para que tenhamos uma alternativa. Os países vizinhos também podem compartilhar essas ideias discutidas nos Brics", sugeriu.
Para o professor KJ Joseph, da Índia, os avanços alcançados representam apenas o começo de um processo. "Temos a responsabilidade de pensar para frente e de uma maneira mais sistemática", afirmou. "Como grupo de pesquisadores não podemos viver em isolamento, precisamos modelar uma estratégia e fornecer insumos aos formulares de políticas".
Desdobramentos
O encontro deu continuidade ao debate que resultou na Declaração de Cape Town, elaborada em fevereiro deste ano em reunião na África do Sul, com a participação dos ministros de Ciência, Tecnologia e Inovação do bloco.
“O acordo estabelece princípios fundamentais relacionados à identidade dos países, às especificidades de seus planos nacionais de inovação, diante do fato de que essas nações são chave para uma transformação produtiva para uma economia mais amigável, no sentido de não explorar os recursos naturais e poder incorporar na economia a sociedade como um todo", destaca Cassiolato.
O resultado das discussões ocorridas no seminário irá nortear a elaboração de um documento, a ser finalizado em reunião técnica nesta quinta-feira (27), no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e responsável pelo evento. O material será encaminhado aos ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação de cada país como contribuição do grupo ao debate.
“Essa proposta deve seguir a ideia política e ampla dos Brics, provavelmente tratando da questão da institucionalidade do grupo para podermos pensar de forma articulada as políticas de CT&I desses países", adianta o coordenador. "Esperamos que possa ser útil para o amadurecimento entre os países. Nesse sentido, avançaremos mais um passo na cúpula dos presidentes e líderes dos Brics, que ocorre em julho, em Fortaleza".
Texto: Denise Coelho -- Ascom do MCTI