Pesquisadores dos cinco países discutiram possíveis parcerias. Foto: Giba/Ascom do MCTI
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul têm desafios tecnológicos em comum para melhorar seus serviços de saúde. Especialistas dos cinco países discutiram possíveis parcerias nesta quarta-feira (26), em painel do Seminário sobre Sistemas de Inovação e Desenvolvimento dos Brics – evento promovido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Uma das principais barreiras para se fazer política industrial e tecnológica não é técnica nem científica, mas passa pela transformação de uma estrutura produtiva permeada de interesses econômicos e políticos para algo que envolva interesses sociais mais legítimos”, avaliou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha. “Isso não é um jogo técnico; envolve poder, dinheiro e transformação social.”
Gadelha apontou para a complexidade de construir sistemas universais de medicina destinados a populações continentais como as do bloco: “Se os Brics conseguirem fazer uma coalização política em que essas ideias e práticas públicas tenham um patamar básico de consenso, a gente tem uma chance de alcançar o padrão tecnológico mundial em saúde, e então retomar nesses países emergentes um estado de bem-estar assentado numa transformação tecnológica que favoreça o desenvolvimento econômico e social”.
Desafios
O representante russo no painel, Alexander Chulok, expôs dados para demonstrar efeitos de políticas públicas sobre a expectativa de vida em seu país, ao combater ameaças como alcoolismo, tabagismo e precariedades em processos pós-cirúrgicos. “Temos que ver como o sistema de ciência, tecnologia e inovação pode influenciar o de saúde”, disse. “Além disso, é importante entender quais são os pontos fracos nessa esfera. Devemos pensar em direções comuns, a respeito de quais são os coringas nesse baralho.”
Para o pesquisador indiano Dinesh Abrol, países emergentes precisam interagir nacional e internacionalmente para competirem no mercado global de fármacos. “Se virmos os medicamentos inovadores produzidos na Índia – apelidada de ‘farmácia do mundo’ –, percebemos que muitos deles saíram dos laboratórios multinacionais em cooperação com o nosso mercado doméstico”, ilustrou. “Há pressões externas e os Brics precisam se reunir tanto no nível de resistir a essas forças que vêm de fora quanto para trabalhar em colaboração para que possamos enfrentar os desafios de efetivamente inovar em saúde.”
Já o especialista da China, Jianghua Zhou, tratou das disparidades entre áreas rurais e urbanas no acesso a equipamentos e serviços médicos. “As taxas de mortalidade são muito mais elevadas no campo”, ressaltou. “Falta capacidade às empresas chinesas para competir com as multinacionais nesse mercado de ponta. Como a maior parte dos equipamentos dos nossos hospitais são importados, e muito caros, os ministérios da Ciência e Tecnologia e da Saúde iniciaram em 2010 um projeto de demonstração para tentar encontrar maneiras inovadoras para atender as necessidades das pessoas de baixa renda.”
A palestrante da África do Sul, Erika Kraemer-Mbula, apontou para as dificuldades de transição inerentes aos 20 anos de democracia. “A expectativa de vida piorou e a taxa de mortalidade também, com problemas epidêmicos como HIV, doenças crônicas de saúde mental, tuberculose, violência e complicações neonatais, maternas e infantis”, relatou. “Por outro lado, os índices melhoraram recentemente, principalmente pelo progresso com relação à aids, já que temos o maior programa do mundo de terapia antirretroviral.”
Indústria
Representante brasileira no painel, a pesquisadora Maria Clara Soares comentou sobre o esforço do governo federal para fortalecer os segmentos industriais da saúde e reduzir a dependência externa em medicamentos, equipamentos, materiais médicos e produtos biológicos. “Entretanto, persiste uma preocupação com a territorialização desse complexo econômico-social”, observou. “A gente observa uma expansão territorial do acesso à saúde, mas ainda existe uma baixa sinergia em termos da descentralização geográfica e da difusão dessa base produtiva no país.”
Diante desse desafio, segundo Maria Clara, Ministério da Saúde e MCTI incentivaram o desenvolvimento da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que articula instituições de ensino e pesquisa de mais de 20 estados, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Saiba mais sobre o seminário em Brasília.
Texto: Rodrigo PdGuerra – Ascom do MCTI