Pesquisadores brasileiros divulgaram estudo do perfil de famílias de dependentes de drogas do Brasil e as dimensões dos transtornos psicológicos e físicos causados aos parentes mais próximos ao usuário. O estudo contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI).
O Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família) entrevistou 3.153 famílias de todas as regiões do país, de junho de 2012 a julho de 2013.
Coordenado pelo pesquisador Ronaldo Laranjeira, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad, apoiado pelo CNPq), o Lenad Família traz informações sobre as características sociodemográficas, percepção do problema e tempo para a busca por ajuda, impacto financeiro e psicológico da família e impressões sobre os tratamentos usados.
De acordo com Laranjeira, o conhecimento dessas informações é de fundamental importância para o planejamento de tratamentos mais amplos e eficientes e de políticas de saúde pública com foco no amparo da população.
Vulnerabilidade
A habilidade de trabalhar ou estudar foi afetada na metade das famílias que tem dependentes de substâncias em casa, e ter um parente nestas condições incomoda e atrapalha a vida social. Há também o relato de quase um terço que menciona roubo de pertences e empréstimos de objetos sem devolução e ameaças por parte dos parentes dependentes.
Identificou-se também que a família do dependente se apresenta em situação de vulnerabilidade e de riscos para o desenvolvimento de problemas de saúde. “O estudo mostrou que familiares de dependentes químicos apresentam significativamente mais sintomas físicos e psicológicos que a média da população. Observou-se também que as mães sofrem mais sintomas físicos e psicológicos decorrentes do uso de seus filhos que outros familiares, independente da substância que levou ao tratamento”, destaca o estudo.
O Lenad Família se soma ao 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (2º Lenad), recentemente divulgado pelo Inpad, que estimou que 8 milhões de brasileiros (5,7% da população) são dependentes de álcool e/ou maconha e/ou cocaína, e que pelo menos 28 milhões de pessoas vivem no Brasil com um dependente químico.
Perfil da família
A pesquisa revelou que as mulheres (66%) são as responsáveis pelo tratamento do dependente de álcool e/ou de substâncias ilícitas. Essas mulheres, de acordo com o estudo, sofrem forte impacto negativo e “têm uma sobrecarga de cuidar do filho dependente e ser responsável pelos cuidados da família”. Elas foram a maioria dos entrevistados (80%).
Grande parte dos pacientes em tratamento tinha entre 12 a 82 anos, com média de idade de 32 anos. Entre as substâncias usadas regularmente pelos pacientes, o Lenad levantou que a maioria era poliusuária de drogas, sendo mais da metade consumidores de maconha (68%), álcool (62%), cocaína (60,7%) e crack (42%). Os familiares relataram que tinham conhecimento que o paciente consumia droga por um tempo médio de nove anos e que a recusa por parte do dependente foi a principal razão na demora por iniciar o tratamento.
Somente 30% dos familiares procuraram ajuda assim que tiveram o conhecimento sobre o uso de substâncias pelo paciente. Dos pacientes, quase um terço tinham ensino superior incompleto ou completo.
Impacto financeiro
O tratamento dos dependentes de substâncias no país é pago exclusivamente pelo próprio familiar em mais da metade dos casos e o uso de convênios foi citado em 9% dos relatos. Esse dispêndio, de acordo com os pesquisadores, afetou “muito ou drasticamente as finanças da família em quase metade dos casos entrevistados (45%)”.
A internação foi citada com a mais positiva e eficiente (56%) entre os tipos de ajuda procurada e impressão da eficiência, seguida por grupos de mútua ajuda como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Amor Exigente, Alanon e Pastoral da Sobriedade.
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Texto: Ascom do CNPq