O secretário Luiz Antonio Elias. Foto: Davi Fernandes/Ascom do MCTI
De agosto de 2012 a agosto de 2013, sete capitais brasileiras sediaram encontros preparatórios para o 6º Fórum Mundial de Ciência (FMC) 2013, que começa neste domingo (24) e segue até quarta-feira (27), no Rio de Janeiro.
Segundo o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antonio Elias, as discussões realizadas devem contribuir na formatação das políticas públicas nacionais dos próximos governos, ao menos até o fim da década, em 2020.
“Criamos um debate que, na verdade, não se esgota nesses sete encontros”, disse Elias, nesta sexta-feira (22), último dia do Seminário Brasil – Ciência, Desenvolvimento e Sustentabilidade, também na capital fluminense. “Essa percepção nos fornece elementos para construir uma proposta mais arrojada para o ano que vem, pensando a década, e, por outro lado, a estruturação, em conjunto com parceiros, dos caminhos estratégicos para o próximo governo”.
O secretário lembrou que cada encontro tratou de um tema central específico, mas houve abordagens horizontais, que conectaram os sete eventos, em quatro linhas transversais: educação em ciência; difusão e acesso ao conhecimento e interesse social; ética na ciência; e desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Conexão
Ao apresentar o documento Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global: Contribuição do Brasil, síntese dos encontros preparatórios, a presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, ressaltou o caráter integrador do ciclo de discussões.
“Embora eles tenham passado somente por sete capitais, em todos os locais houve participação de estados vizinhos. A integração nacional foi intensa e chegou, em vários dos eventos, a envolver o exterior, inclusive em São Paulo, onde contamos com a grande maioria dos presidentes das academias de ciências da América Latina e do Caribe”, contou. “As discussões refletem o Brasil, mas o Brasil está inserido na região; são problemas e potenciais soluções de todo um contingente do Hemisfério Sul”.
Helena detalhou as 27 recomendações do documento que resumiu as conclusões dos sete encontros. “Se vocês olharem os temas que foram discutidos, eles fazem parte das principais sessões do Fórum Mundial de Ciência, como oceanos, biodiversidade, energia, ética na pesquisa, fontes de financiamento e diálogo da ciência com a sociedade”.
Histórico
São Paulo recebeu o 1º Encontro Preparatório, em agosto de 2012, quando foi discutido o intercâmbio entre educação e inovação, com objetivo de se propor bases para a cidadania e o desenvolvimento sustentável.
Promovido na capital mineira, em outubro do ano passado, o 2º Encontro debateu os desafios para o desenvolvimento científico e tecnológico nos trópicos. A representante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no seminário, Marisa Mancini, informou que o evento discutiu sobre a gestão e preservação de recursos hídricos, agronegócio e doenças tropicais.
Um mês depois, em Manaus, o 3º Encontro abordou a diversidade tropical e a ciência para o desenvolvimento. Segundo o secretário executivo da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (Secti-AM), Eduardo Taveira, “ficaram latentes as pressões acerca do uso dos recursos naturais e os desafios que nós temos frente às florestas tropicais”.
Taveira enfatizou a complexidade para se desenvolver estados e países da Amazônia. “São áreas geralmente reconhecidas pela pobreza, o que é desproporcional à riqueza da biodiversidade”, afirmou. “Isso, em si, já é um desafio, uma vez que esses espaços têm a responsabilidade de preservar suas áreas notadamente ricas pela diversidade cultural, social e natural. O desafio é desenvolver, gerar riqueza e, ao mesmo tempo, preservar e conservar os seus recursos naturais”.
O 4º Encontro, em Salvador, em dezembro, tratou de energia e sustentabilidade. “O foco principal foi a matriz energética brasileira e como torná-la mais limpa”, explicou o coordenador do Instituto Nacional de Energia e Ambiente (INCT E&A), Jailson Andrade. “Avaliamos o envolvimento da energia com o uso da água, a produção de alimentos e o reflexo no meio ambiente. Esses quatro itens estão completamente interligados”.
De acordo com Andrade, houve uma ênfase ao uso da água na geração de energia. “Para se ter uma ideia, a produção de um litro de etanol, que é o melhor combustível [em eficiência], consome 2,5 mil litros de água. Já um litro de biodiesel gasta de 14 mil a 20 mil litros de água”, exemplificou. “O impacto é imenso. É preciso incentivar a captura direta de energia solar e eólica, que usam realmente pouca água. Isso se reflete na sustentabilidade”.
Já em 2013, em abril, Recife recebeu o 5º Encontro, que abordou oceanos, clima e desenvolvimento. “Acreditamos que a América Latina, o Caribe e, em particular, o Brasil têm muito a contribuir no debate internacional”, avaliou o pesquisador Moacyr Araújo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ele destacou o papel do oceano como modulador de mudanças climáticas. “Existe uma necessidade imperativa de conservarmos ambientes marinhos e costeiros. Isso passa invariavelmente por uma estratégia de criação de unidades de conservação”, argumentou. “A área do mar territorial brasileiro é equivalente à do continente. Porém, mais de 20% das terras são áreas indígenas ou de proteção ambiental”.
O 6º Encontro ocorreu em Porto Alegre, em maio, com clima, saúde e alimentos no centro das discussões. A secretária adjunta de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Sul, Ghissia Hauser, lembrou que o Paraná e Santa Catarina também participaram do evento na capital gaúcha.
“Nós, dos estados do Sul, produtores de alimentos, sofremos muito com as variações climáticas e também com uma população que vem envelhecendo muito”, destacou. “Então, as questões de saúde se sobressaem, não só pela idade, mas também como resultado do próprio modelo de produção agropecuária, que está gerando um conjunto de novas doenças, que a gente vem estudando”.
O Distrito Federal fechou o ciclo com o 7º Encontro, em agosto, com a ciência para o ambiente e a justiça social como tema. A socióloga Fernanda Sobral, da Universidade de Brasília (UnB), enfatizou a relevância da interdisciplinaridade acadêmica. “Os desafios e os problemas que nos afetam hoje exigem que disciplinas diferentes conversem. Em alguns casos, inclusive, a ciência precisa dialogar com saberes tradicionais, além das fronteiras entre as culturas”.
Texto: Rodrigo PdGuerra – Ascom do MCTI