O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, defendeu nesta quinta-feira (26) a importância do desenvolvimento de parcerias público-privadas (PPPs) para atenuar as consequências dos desastres naturais no Brasil.
“Estamos abertos a ouvir e desenhar sistemas que atendam à indústria de seguros nessa área”, afirmou, em palestra no simpósio “Mudanças climáticas e desastres naturais no Brasil – desafios e oportunidades para o setor de seguros”, organizado pela Academia Brasileira de Ciências e The Geneva Association, no Rio de Janeiro.
Na avaliação dele, o governo começou a adotar atitudes preventivas e não mais reativas para reduzir os efeitos de desastres naturais no país. Ele citou como exemplo a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/MCTI), em julho de 2011, pelo decreto presidencial nº 7.513. O centro é responsável por gerenciar as informações emitidas por radares, pluviômetros e previsões climáticas.
“O foco do plano do governo é salvar vidas. A nova postura do governo, de prevenção, é um elemento que muda a estrutura básica da indústria de seguros”, afirmou, ao destacar que as informações geradas pelo Cemaden podem ser usadas pelo setor.
Nobre ressaltou que o Brasil já iniciou o debate para a adoção de medidas com visão de longo prazo, o que oferece mais economia para o país. Segundo ele, estudos da Universidade de São Paulo (USP) apontam que, somente em São Paulo, as perdas com inundações chegam a R$ 750 milhões por ano.
“No Brasil ainda estamos criando resiliência aos extremos climáticos de hoje, mas não é o nível adequado de adaptação. O país precisa de políticas públicas de longo prazo”, disse, acrescentando que pesquisas demonstram que chuvas intensas vão ocorrer com mais frequência no futuro.
Gestão de riscos
De acordo com o secretário, o Brasil é um país “mediamente vulnerável” às mudanças climáticas. As áreas de maior risco são as do Semiárido e as cidades, especialmente as de grande porte, em função da frequência de eventos extremos de chuva e seca.
O desafio, na avaliação dele, é buscar uma adaptação das atividades do país às mudanças climáticas, inclusive no agronegócio, que deveria investir em monitoramento de risco de safra. “Sistema de monitoramento de risco ambiental deve ser visto como investimento e não como custo”.
Experiência chilena
Considerado o país mais sísmico do mundo, o Chile enfrentou importantes desafios durante o terremoto de fevereiro de 2010, que foi seguido de tsunami, causando 525 mortes.
A experiência do país sul-americano foi apresentada no simpósio pelo gerente geral da Associação de Seguros do Chile, Jorge Claude. Segundo ele, a indústria de seguros chilena teve, em 10 meses após o terremoto, o equivalente a nove anos de trabalho em condições normais. O custo para o Tesouro foi de US$ 8,4 bilhões, coberto com o aumento de impostos.
Em 2010, o Chile teve desafios logísticos (como dificuldade de acesso a áreas destruídas e interrupção de serviços básicos), estratégicos (as dificuldades com planos de contingência isolados levaram agora à elaboração de um plano nacional no caso de catástrofe), financeiros (o mercado de resseguros mostrou-se muito importante nesse caso), técnicos e legal (mostrou-se necessária uma política básica, com regras uniformizadas, onde todos vendem o mesmo produto em casos de catástrofes).
Texto: Fernanda Paraguassu - Ascom do MCTI