A importância da adoção de uma estratégia de desenvolvimento socialmente justa e ambientalmente responsável foi destacada, nesta quarta-feira (21), pelo professor Elimar Nascimento, da Universidade de Brasília (UnB), durante o primeiro dia de debates do 7º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência (FMC). O evento é realizado até a tarde desta quinta (22), na sede da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), na capital federal.
Nascimento ministrou palestra sobre “Principais desafios relacionados aos novos padrões de produção e consumo”, citando algumas premissas para abordar o tema sob a ótica da sustentabilidade. "Não é possível continuar o tipo de desenvolvimento que adotamos desde a Revolução Industrial. Nós não podemos seguir o modelo dominante que se disseminou da Europa para praticamente todo o mundo", ressaltou.
O professor listou diversas razões para a necessidade de um novo cenário, como a previsão de que entre 120 milhões e 150 milhões de pessoas ingressarão no mercado de trabalho nos próximos 20 anos. "Apesar disso, chegaremos ao final desse período com quase metade da população ainda à margem do mercado de bens e serviços da modernidade", afirmou.
De acordo com ele, a menos que haja uma revolução científica e tecnológica, não será possível fornecer bens a toda essa massa de pessoas que batem à porta do mercado. “Isso cria um problema sério, um provável aumento da conflitualidade na nossa sociedade porque, sobretudo, uma das fontes que geram conflitos, inclusive urbanos, é a percepção da desigualdade”, disse.
O professor também destacou que o desenvolvimento sustentável não pode ser reduzido às esferas da sustentabilidade ambiental, da eficiência econômica e da equidade social. Para ele, é preciso levar em consideração outras dimensões, como a política. “A política é fundamental porque, em geral, o discurso da sustentabilidade é despolitizado. Como o problema [do desenvolvimento sustentável] é de todos, não há conflito de interesses, a não ser entre percepções diferenciadas, e não por interesses de exploração intrínsecos à sociedade. Como o conflito capital-trabalho perdeu a sua centralidade, é fácil esse processo de despolitização”, ponderou.
Mudança
Elimar Nascimento avalia ser inviável pensar num novo padrão de consumo sem mudança de percepções e de valores na adoção de um novo estilo de vida. Nesse contexto, abordou a variável cultural, lembrando que é impossível, por exemplo, resolver as questões da mobilidade urbana sem a redução da aquisição de automóveis.
“Eu não reduzo esse consumo se não tiver uma postura diferenciada em relação ao símbolo que o automóvel significa. O carro é mais do que o exercício do deslocamento. Ele é uma manifestação ostentatória de poder masculino, em uma sociedade machista”, afirmou. Leia mais sobre o encontro em Brasília e assista aos debates.
Texto: Bianca Torreão – Ascom do CGEE