Bandos de aves são um caso paradigmático de movimento coletivo animal em que, apesar da inexistência de liderança, é possível a observação de um estado globalmente ordenado. Esse ordenamento, resultante da auto-organização do sistema, surge tanto em biologia como em problemas eminentemente físicos tais como ferromagnetos. Na edição desta terça-feira (25) dos Colóquios do CBPF, o físico Sílvio Queirós, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCTI), apresentará resultados sobre as propriedades difusivas de estorninhos num estado de movimento coletivo e as suas implicações na rede de interação por meio da análise de trajetórias obtidas por estudos de campo.
Em ambos os casos, a tendência para o alinhamento da velocidade (que se pode comparar a um spin) dos elementos do sistema dá origem a um estado polarizado. Existe, contudo, uma diferença crucial entre os dois casos acima mencionados: as aves se movimentam e por isso podem trocar de vizinhos. Consequentemente, a rede de interações no caso de bandos de aves não é fixa no tempo, o que poderá implicar uma diferença substancial nos mecanismos de interação entre sistemas biológicos e físicos. Para a aferição da relevância do movimento das aves na coesão do bando se torna então importante a quantificação das propriedades de movimento relativo.
Os resultados obtidos pelo palestrante apontam para um comportamento superdifusivo das trajetórias relativas entre aves (e em relação ao centro de massa) bem como para uma forte anisotropia na difusão. Os resultados apontam também para a inexistência de qualquer tipo de mecanismo que mantenha fixas as posições relativas dos estorninhos no bando.
Sílvio Queirós se graduou em física pela Universidade do Porto, onde também fez o seu mestrado. Veio para o Brasil e se doutorou no CBPF em 2006. Após duas concessões de bolsa Marie Curie e passagens como pós-doutor pelo Reino Unido e pela Itália, foi contratado pelo CBPF em 2013, onde atualmente realiza pesquisa na área de sistemas estocásticos (dentro e fora do equilíbrio) e suas aplicações.
Leia mais.
Texto: Ascom do CBPF