Duas horas remando, entre árvores, cipós e a escuridão do interior da selva. Esse foi o cenário que sete pescadores de Maraã (AM) e a equipe do Grupo de Pesquisa Ecologia e Biologia de Peixes do Instituto Mamirauá enfrentaram nas noites da última semana, na Reserva Mamirauá. O objetivo da expedição foi chegar ao Lago do Itaúba e analisar as condições para o manejo de alevinos (filhotes) de aruanãs. Foi a terceira viagem à reserva de desenvolvimento sustentável (RDS), naquele município amazonense, a 640 quilômetros de Manaus.
Conforme explica a bióloga Danielle Pedrociane, a pesquisa avalia o estoque de aruanãs filhotes e adultos, visando à exploração dos peixes dentro de um sistema de manejo sustentável, que garanta a conservação da espécie e outra fonte de renda para os pescadores.
É o que deseja o pescador Paulo Gonçalves, da Colônia Z-32 de Maraã. "Eu espero que a gente consiga buscar esse manejo, assim como a gente conseguiu o manejo do pirarucu, pois o manejo de aruanãs vai beneficiar mais de 700 famílias”, diz. “Trabalhando a gente chega lá." Em janeiro, o Instituto Mamirauá apresentou à colônia o projeto de pesquisa, que foi uma solicitação dos pescadores. Agora eles participam da coleta de dados do projeto.
As expedições de campo precisam ocorrer à noite, quando os olhos da sulamba, como também é conhecido o aruanã, refletem fortemente o feixe de luz. A avistagem é possível porque o peixe nada próximo à superfície. A amostragem da pesquisa envolve sete lagos na RDS.
O Lago do Itaúba, visitado na última semana, apresenta condições desfavoráveis para o manejo, em função da distância e de dificuldades de acesso, diferentemente dos outros. Além disso, embora haja relato da disponibilidade de filhotes em maio, constatou-se que este período não é adequado para coleta dos peixes, pois poucos foram avistados em função de o nível d'água estar elevado.
Pesca ilegal
Aruanãs têm interesse comercial e ornamental e o manejo também poderá amenizar a pressão sobre os estoques pesqueiros, em decorrência da pesca ilegal e da ausência de uma legislação eficiente. No caso da pesca comercial, uma portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/MMA) determina que os espécimes sejam capturados com tamanho mínimo de 40 centímetros. "No entanto, estudos nas reservas Mamirauá e Purus indicam que um aruanã só se reproduz quando alcança entre 52 e 60 centímetros. Ou seja, se ele for capturado com tamanho inferior a essa média, provavelmente não terá se reproduzido uma única vez", afirmou Danielle.
Com os aruanãs, para fins ornamentais, o problema é a venda da pesca ilegal, que é um crime ambiental, para outros países da América do Sul, como o Peru e a Colômbia. Danielle compara: "Um pescador que pescou ilegalmente um aruanã vai vendê-lo, para fins ornamentais, entre R$ 0,50 e R$ 1. Se o peixe for manejado, o preço para o pescador pode chegar até R$ 5".
Leia mais.
Texto: Eunice Venturi – Ascom do Instituto Mamirauá