Brasil quer retomar exploração de terras raras. Foto: Igor Pessoa/INB
Os 17 elementos químicos conhecidos como terras-raras são insumos essenciais à tecnologia de ponta. Sem eles, o mundo talvez não tivesse, por exemplo, tablets, smartphones e aparelhos de ressonância magnética, além de catalisadores para refino de petróleo, carros híbridos e turbinas de energia eólica.
Nos últimos anos, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) voltou suas atenções para esses recursos minerais e, até 2016, deve investir R$ 11 milhões em pesquisa.
“Temos um conjunto de minerais estratégicos para o país, dentro dos quais se destacam as terras-raras, ao lado de agrominerais, lítio e silício”, explica o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTI, Alvaro Prata.
Ele participa amanhã (14) de audiência pública no Senado para discutir um marco legal para esses elementos. “Cuidar das terras-raras é cuidar dos nossos minerais estratégicos e cuidar dos minerais estratégicos é cuidar da nossa riqueza mineral”.
O MCTI incluiu o assunto na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, documento com diretrizes para o período de 2012 a 2015. Em parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME), a pasta definiu um programa setorial para minerais estratégicos, que propõe o desenvolvimento e o estabelecimento da cadeia produtiva de terras-raras, desde a produção de óxidos até sua aplicação em componentes de produtos de alta tecnologia.
Segundo Prata, muito do desenvolvimento tecnológico nacional passa pelo grupo de minerais, distribuído por reservas de todo o país. “Precisamos desses 17 elementos químicos em vários produtos nos quais queremos agregar tecnologia. A questão é que o Brasil, que já teve bastante competência em terras-raras, reduziu ao longo dos tempos a importância que dava a esses recursos, porque a China dominou o mercado mundial”.
Complexidade
Se quiser voltar ao páreo no mercado internacional, de acordo com Prata, o Brasil deve investir para dominar rotas tecnológicas da prospecção bruta ao desenvolvimento de produtos. “O MCTI e o MME têm se preocupado neste momento com toda a cadeia produtiva, não só a mineração, mas a separação da matéria-prima de onde se obtêm os óxidos, a formação de ligas e o uso que se faz delas, seja para fazer ímãs superpotentes seja para catalisadores”.
A separação se faz necessária pela característica dos elementos de se dissolverem entre outros minérios. Embora abundantes pelo planeta, as terras-raras costumam ter baixa concentração. “Na verdade, o termo leva o adjetivo ‘rara’ porque, quando se faz a mineração, nunca se encontram essas substâncias em abundância, mas sempre diluídas”, observa o secretário.
Segundo ele, depois da mineração e da separação, a cadeia envolve os óxidos de terras-raras, que são muito instáveis, em um processo elaborado, dificultoso. “É possível utilizar os óxidos por si só, mas normalmente se quer transformá-los em ligas com as quais, por exemplo, se fazem ímãs, úteis para desenvolver geradores eólicos e motores elétricos de alto desempenho. Nota-se, então, que falamos de toda uma cadeia muito complexa”.
Histórico
Décadas atrás, o Brasil extraía quantidades significativas de terras-raras. Jazidas localizadas do Rio de Janeiro à Bahia forneceram matéria-prima para mantas incandescentes de lampiões produzidos na Europa e viabilizaram a fabricação de um submarino de propulsão nuclear pelos Estados Unidos.
Mas, nos anos 1980, a China previu o potencial dos elementos e investiu em pesquisa tecnológica, a ponto de tornar seus preços baixos o suficiente para desmobilizar a extração dos minerais no resto do planeta, que deixou de produzi-los e começou a importar a matéria-prima da república asiática.
“Isso aconteceu porque o país que detém as maiores reservas se tornou o maior produtor e supriu todo o mercado mundial em abundância”, recordou Prata. “Hoje, 87% das terras-raras do mundo são produzidas na China”.
Recentemente, o governo chinês restringiu suas exportações dos elementos e aumentou os preços do mineral bruto. “Aí se observa a questão da soberania, da visão estratégica, quer dizer, hoje, em função da importância que as terras-raras adquirem numa série de produtos tecnológicos, o Brasil e outros países percebem que não podem ficar dependentes de um único fornecedor para o suprimento de uma matéria-prima tão relevante”, pondera o secretário.
Texto: Rodrigo PdGuerra – Ascom do MCTI (atualizado em 14/5/2013)