Bebida antes vista com preconceito, a cachaça tem conquistado um público mais sofisticado, e sua produção vem aprimorando a qualidade e obtendo mais certificações. Embora a exportação ainda seja tímida, vários esforços têm sido feitos para levar o produto nacional para outros países. A Finep – Agência Brasileira da Inovação, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), investiu cerca de R$ 3,3 milhões nos últimos oito anos, especialmente na instalação de laboratórios de análise específicos para garantir a qualidade da bebida.
Boa parte do caminho para uma produção mais profissionalizada e um maior ganho de valor agregado vem por meio de certificações. Nesse ponto, o estado de Minas Gerais foi pioneiro, e a Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade (Ampaq) tem seu próprio selo de qualidade. Iniciativas semelhantes se espalharam por outras regiões, especialmente no restante do Sudeste, no Nordeste e no Sul. No Rio de Janeiro, estado com pequena produção, os alambiques têm se sofisticado e investido na busca da certificação, com olhos no mercado externo.
O primeiro selo de indicação geográfica (IG) para cachaça, emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI/MDIC), foi dado a alguns alambiques da cidade de Paraty, palavra que é um dos sinônimos dessa bebida no dicionário. Produtos da região de Salinas (MG) devem ser os próximos a receber o selo IG.
Recentemente, a primeira cachaça fluminense obteve uma certificação de qualidade, pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI). Em 2007, o INT passou a ser a primeira – e ainda a única – instituição no estado do Rio a certificar cachaça. O projeto nasceu no Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex), gerido pela Finep, coordenado por Luiz Carlos Correia Pinto, coordenador executivo da Rede de Extensão Tecnológica do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec/RJ).
Seleção
A iniciativa de melhoria da cachaça fluminense continua ganhando impulso, com apoio do Sebrae, por meio da Sibratec Exportação. Nessa empreitada, foi realizado um levantamento dos melhores alambiques do RJ e, como resultado, foram selecionados 30. Desses, definiu-se que 15 tinham potencial para exportação, e esses receberão financiamento com vistas à certificação.
Os técnicos fazem avalição de conformidade, estabelecida por vários quesitos do processo produtivo, como controle ambiental, segurança alimentar, higiene e qualidade físico-química do produto, entre outros. “No momento, os alambiques estão adequando os processos. Nós também organizamos palestras para desmistificar a certificação como um bicho de sete cabeças”, explica a extensionista tecnológica do INT Lilian Grace Aliprandini. “Estamos atrás do restante do Brasil em termos de certificação, principalmente dos grandes polos produtores de minas, Pernambuco e São Paulo”, diz. “Mas as cachaças produzidas no Rio são as melhores em termos de higiene, segurança e outras conformidades.” Cerca de 8% do volume exportado pelo Brasil é produzido no estado, segundo dados do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça (CBRC).
O projeto conta com uma unidade móvel que já atendeu 13 alambiques, na qual são realizados testes de verificação de qualidade, avaliações de níveis de contaminantes e qualidade da água, entre outros. Além das análises, há treinamento de boas práticas para produtores. “Estamos partindo de um segmento que era um negócio de fundo de quintal, um hobby de família, para hoje ser consolidado com uma indústria de bebidas”, diz Luiz Carlos Correia Pinto.
“O potencial para exportação é grande. São Paulo levou a cachaça a granel para o mundo, e em vários países a caipirinha é um drink familiar. Minas tem um apelo imenso no mercado interno. Já o Rio pode aliar a qualidade especial de sua cachaça ao seu potencial turístico”, observa Lilian Grace Aliprandini.
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Texto: Ascom da Finep