Artesão testa torno de cerâmica. Foto: Divulgação/CVT Cabo de Santo Agostinho
O Programa de Apoio à Implantação e Modernização dos Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs) é uma das iniciativas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que visam contribuir para a política nacional de superação da pobreza e das desigualdades socioeconômicas e regionais, além de promover o acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos. O CVT de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, é um dos cerca de 200 centros em funcionamento em diversas modalidades em todas as regiões brasileiras.
O trabalho desenvolvido com um grupo de ceramistas da cidade pernambucana ampliou as perspectivas para essa comunidade e foi vencedor em duas edições do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato.
Os CVTs atuam como unidades de extensão tecnológica que articulam pesquisa aplicada e a educação tecnológica e profissional orientadas para o desenvolvimento das vocações econômicas locais e para a melhoria da qualidade de vida, principalmente, das populações em situação de extrema pobreza e de baixa renda. O programa é coordenado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Secis) do MCTI.
No caso do CVT de Cabo de Santo Agostinho, município pertencente à região metropolitana de Recife, o projeto da prefeitura – que já contava com a parceria da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe) no apoio ao desenvolvimento da cerâmica utilitária artesanal – ganhou reforço e novas perspectivas, a partir de 2007, com a aprovação do ministério para a sua implantação na região.
Potencialização
A professora de design da Ufpe Ana Andrade conta que o cenário da produção era a tradição, passada de pai para filho, que se limitava a fazer filtros, jarros, panelas e vasos em tornos manuais. A participação da universidade se deu por meio de ações de pesquisa e extensão do laboratório de design O Imaginário, coordenado pela pesquisadora Virgínia Cavalcanti. O objetivo foi potencializar a capacidade produtiva do local, para atender as necessidades do mercado e garantir o sustento da população local, com a atuação de uma equipe multidisciplinar que conduziu várias pesquisas, testes, ensaios e novas técnicas para aplicação na produção no produto.
Hoje a comunidade, composta por 13 artesãos, atende um hotel da região e comercializa seus produtos em feiras nacionais e internacionais. E o trabalho das ceramistas do Cabo também ganhou destaque nacional com as premiações da Agência de Apoio ao Empreendedor e ao Pequeno Empresário (Sebrae) em 2009 e 2012, no evento que reconhece a qualidade dos produtos e as melhores práticas na área.
Ao barro natural se adicionaram outras matérias-primas, como restos de cerâmicas provenientes das indústrias. “Com o objetivo de reduzir a retirada do barro natural e diminuir os refugos [rejeitos de cerâmica] no meio ambiente”, explica Ana Andrade. Outra tecnologia aplicada foi o uso de vidrados cerâmicos que tornam a superfície da cerâmica impermeável, além de adicionar cores. “Esta etapa é importante para que os resíduos de comida não penetrem no barro e é uma das recomendações da vigilância sanitária”, acrescenta a pesquisadora.
Outros aprimoramentos e articulações também feitos com vistas a atender o grande mercado, em especial restaurantes e hotéis. Equipamentos mais eficientes foram adquiridos - como forno a gás natural, misturador, extrusora e laminador - em escala menor em relação aos similares utilizados nas grandes indústrias. E os artesãos do Cabo ganharam novos parceiros, como o Sebrae, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) e o complexo portuário de Suape.
Estruturação
O CVT está instalado no Centro de Artesanato Wilson de Queiroz Campos Júnior, localizado às margens da rodovia PE-60. O conjunto arquitetônico, composto por quatro blocos, foi concebido para atender as atividades de beneficiamento, modelagem, queima e esmaltação cerâmicos. Com o apoio financeiro do Banco do Nordeste do Brasil foram adquiridos os equipamentos específicos para o beneficiamento da matéria]prima (argila), atualmente extraída da jazida natural localizada no Complexo Portuário de Suape.
Por meio da parceria do BNB com o Instituto Tecnológico de Pernambuco (Itep) e a Copergás foi desenvolvido, ainda, o forno a gás para cerâmica; adquirido com recursos do projeto CVT Três Cidades, também apoiado pelo MCTI. Os fornos, além de possibilitar o aumento e controle da temperatura de queima, têm a meta de contribuir para a redução do impacto ambiental causado pela extração e pela queima de madeiras. O projeto CVT Três Cidades permitiu também a adequação do espaço físico e a instalação desses equipamentos.
Os tornos cerâmicos elétricos foram desenvolvidos pela equipe de designers do laboratório O Imaginário, em 2010, e as atividades de pesquisa com esmaltes e queima foram inicialmente desenvolvidas no espaço da Agência de Estudos e Restauro do Patrimônio de Olinda, município também contemplado no projeto CVT Três Cidades. A partir da implantação dos equipamentos, as pesquisas relacionadas a caracterização da argila e esmaltação foram transferidas para o local atual.
Texto: Denise Coelho – Ascom do MCTI