Campagnolo observou que MCTI possui instrumentos para aproximar institutos de pesquisa de empresas. Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
A falta de integração entre os institutos de pesquisa e as universidades, os instrumentos governamentais de promoção à inovação e os obstáculos que dificultam a relação entre as áreas científica e empresarial. Esses foram os três principais assuntos debatidos, nesta sexta-feira (7), em Brasília, no 1º Fórum Empresarial do Mercosul.
Direcionado a um público de aproximadamente 400 empresários dos países integrantes do bloco, o encontro foi realizado em paralelo à Cúpula dos Chefes de Estado do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Serviu para a discussão de alternativas para ampliação dos negócios em setores, como infraestrutura, logística, agronegócio, energia e inovação.
Participaram do evento o coordenador de Serviços Tecnológicos da secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e de Inovação (Setec) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Jorge Mário Campagnolo; o gerente da Unidade de Inovação do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Enio Duarte Pinto; o presidente da Agência Nacional de Pesquisa e Inovação (Anii, pela sigla em espanhol) do Uruguai, Rodolfo Silveira; a diretora de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do Grupo Insud da Argentina, Graciela Ciccia; e o presidente da Stefanini Solutions do Brasil, Marco Stefanini.
Na avaliação de Campagnolo, ainda falta compreensão sobre o potencial da inovação no país. “Para fazer ciência atualmente, é necessário compor uma rede de pesquisadores que entendam a necessidade do uso compartilhado de infraestrutura e projetos. A inovação é negócio, este é o entendimento que deve prevalecer, principalmente, no setor privado. O conhecimento tem que ser transformado em produto”, afirmou.
Instrumentos
O coordenador do MCTI lembrou, ainda, que o ministério possui instrumentos que objetivam aproximar os institutos das empresas. “O Sibratec [Sistema Brasileiro de Tecnologia] existe para isso. Temos a rede de extensão tecnológica, por exemplo, que foi criada para resolver os gargalos existentes e ainda financia 90% do valor das ações construídas em conjunto”, informou. Segundo ele, MCTI e Sebrae realizam reuniões periódicas para identificar inciativas que reduzam as disparidades entre institutos de pesquisa e empresas.
Para Enio Duarte, os micro e pequenos empreendedores devem estar atentos à inovação, pois sua ausência é determinante para o pouco crescimento das empresas desses portes. Ele alerta que falta visão aos novos empresários. O gerente do Sebrae entende que o empresários possuem necessidades especificas, nem sempre compreendidas pelos institutos de pesquisa. “Eles não falam a mesma língua. Faltam produtos customizados que atendam esse nicho de mercado”, apontou.
Ele mencionou que, no Brasil, 15% da população adulta estão iniciando algum tipo de empreendimento, enquanto outros 27% já conduzem negócios consolidados, mas sem contar com investimentos de qualidade. “Muitos entram nessa empreitada por não conseguirem colocação no mercado de trabalho. Este também é um fator importante para o alto índice de mortalidade dos novos negócios no Brasil”, explicou.
O empresário Marco Stefanini definiu o que considera necessário para os novos produtos provenientes da inovação e a área prioritária para investimento. “A tecnologia deve ser pensada na região para diminuir o espaço entre países sul-americanos e desenvolvidos”, destacou. “Não temos uma educação de ponta, mas, mesmo assim, temos mão de obra qualificada. A biodiversidade é uma grande oportunidade para que o bloco dê um salto na produção do conhecimento.”
Rodolfo Silveira ponderou que falta uma educação de qualidade no continente, que se traduza conhecimento tecnológico e em produtos inovadores. “Estamos olhando a biotecnologia há 15 anos desta forma, a de que todos os países sul-americanos podem fazer algo interessante em particular. Um grande entrave é a falta de universidades de qualidade internacional”, afirmou Silveira. “Seria um grande desperdício não aproveitarmos este momento favorável para trocar experiências e agregar conhecimento. É preciso criar um ambiente de confiança entre todas as partes envolvidas”, concluiu.
Também sobre os empecilhos da relação governo-empresa, Graciela Ciccia avaliou a importância de os ministérios de Ciência e Tecnologia do bloco facilitarem o processo de comunicação com os empresários. “A utilização excessiva de siglas é um grande problema, pois isso acaba sendo um empecilho para que as empresas entendam todo o processo que devem percorrer para ter acesso ao objeto que buscam”, afirmou. Ela ressaltou, ainda, outros pontos fundamentais, como a ampliação de incentivos fiscais e a criação de uma linguagem própria para a cadeia de ciência, tecnologia e inovação.
Estudo
Como referência para o evento, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) encomendou o estudo Sul Competitivo, segundo o qual, se o bloco investisse R$ 12,9 bilhões até 2020 em oito eixos de transporte de cargas do Mercosul, seria possível reduzir em R$ 1,8 bilhão por ano os gastos com logística.
De acordo com oestudo, o comércio exterior entre os países integrantes do bloco passou de R$ 508,64 bilhões, em 2007, para R$ 782,41 bilhões em 2011.
Texto: Ricardo Abel – Ascom do MCTI