Secretário Nobre discute ampliação de parceria com Holanda. Foto: Augusto Coelho/Ascom do MCTI
O Brasil tem muito a aprender com o conhecimento científico e tecnológico alcançado pelos Países Baixos, especialmente no que diz respeito à inovação, com melhorias imediatas para a sociedade. O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, expressou a disposição da pasta nesta segunda-feira (19), no encerramento de um seminário com presença dos príncipes neerlandeses Willem-Alexander e Máxima Cerruti, na sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC), em Brasília.
“Tivemos nos últimos 10 anos um avanço muito rápido, que mostra a maturidade que a ciência brasileira atingiu, após um trabalho de base, iniciado há muitas décadas, mas temos ainda grandes desafios pela frente”, disse Nobre. “Já os Países Baixos têm um grau de desenvolvimento bastante consolidado. Então, as duas nações têm muito a lucrar nessa nova fase que iniciamos em 2011, com a assinatura de um memorando de entendimento.”
Para o secretário para Educação, Cultura e Ciência dos Países Baixos, Sander Dekker, brasileiros e neerlandeses podem avançar mais juntos que isolados. “Isso sem dúvida vai criar uma massa de pesquisa, que vai fazer com que nossas universidades sejam mais atraentes à indústria e ao comércio. No mundo contemporâneo, países individuais não resolvem desafios globais.”
De acordo com Nobre, uma série de visitas bilaterais esboçaram os primeiros passos da parceria, com a definição de áreas prioritárias. “Concordamos em começar a colaboração em três temas da mais alta relevância para os dois lados, com a sustentabilidade como linha mestra”, revelou o secretário. “O Brasil está firmemente comprometido com o caminho do desenvolvimento que a conferência Rio+20 sinalizou há alguns meses, em junho, de equilibrar crescimento econômico, inclusão social e proteção do meio ambiente.”
Temas prioritários
As três áreas de cooperação mencionadas por Nobre são bioeconomia, agricultura sustentável e adaptação de cidades costeiras à mudança do clima. O primeiro anúncio relacionado à iniciativa ocorre na próxima quarta-feira (21), com a assinatura de uma carta de intenções que prevê o lançamento de uma chamada conjunta entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) e a Organização Holandesa para Pesquisa Científica (NWO, na sigla em inglês), durante seminário promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
“A primeira área é o amplo espectro da bioeconomia”, detalhou Nobre. “Nossos países estão comprometidos em um modelo de desenvolvimento econômico com menor impacto ambiental, seja chamado de economia de transição, economia verde ou de baixo carbono. A biotecnologia desempenha um papel central nessa transição. Os países que mais rapidamente se apropriarem desses conhecimentos chegarão antes ao paradigma do século XXI.”
“Na mesma linha, um dos elementos importantes desse paradigma é a agricultura sustentável”, acrescentou o secretário. “Os Países Baixos praticamente já atingiram seu potencial máximo de produção. E o Brasil é um país do qual se espera muito para alimentar nove bilhões de habitantes nas próximas décadas. Ciência e tecnologia são necessárias para que possamos responder essa demanda mundial, principalmente por alimentos, minimizando os impactos no sistema climático global e na nossa imensa biodiversidade.”
No que diz respeito à adaptação de cidades costeiras à mudança do clima, Nobre ressaltou a experiência neerlandesa. “É desnecessário dizer, mas talvez eles sejam a nação mais avançada no mundo nos estudos de como tornar um país inteiro resiliente às mudanças climáticas, uma vez que enfrentam aumento do nível do oceano e da intensidade das tempestades no Mar do Norte. Menos de 1% do território brasileiro está abaixo do nível de seis metros acima do nível do mar, mas nessa situação vivem de cinco a seis milhões de brasileiros.”
A carta de intenções a ser assinada quarta-feira, em São Paulo, também deve prever para o primeiro semestre de 2013 o encontro inaugural da comissão mista estabelecida por um memorando de entendimento assinado em 2011. “Ela vai se reunir, alternadamente, nos Países Baixos e no Brasil, para avançar com essa agenda”, explicou Nobre.
Ciência sem Fronteiras
O secretário Dekker destacou a educação como fonte de prosperidade e bem-estar. “Com essa economia baseada no conhecimento, os países têm necessidade de mentes inteligentes”, disse. “Estatísticas mostram que os alunos que ganham experiência no exterior durante os seus estudos alcançam melhores resultados finais do que aqueles que permanecem nos seus próprios países. Na Holanda, a proporção de brasileiros ainda é pequena, mas, com o Ciência sem Fronteiras, vamos ter mais incentivos e isso vai melhorar.”
Até o início do mês, o programa havia concedido 291 bolsas para universidades neerlandesas. Mas, de acordo com o presidente da Capes, Jorge Guimarães, “o Ciência sem Fronteiras atingirá brevemente a casa dos 500 bolsistas” nos Países Baixos. “O programa começou a operar em janeiro e chegaremos ao final do ano com mais de 20 mil alunos no exterior”, completou.
A princesa Máxima Cerruti comparou os jovens estudantes ao ex-jogador Romário, contratado para jogar no PSV Eindhoven aos 22 anos. “Ele saiu da América para a Europa sem saber o que esperar e se deparou com o frio”, disse. “Vamos fazer algo para mudar essa impressão dos brasileiros. Os Países Baixos têm muito a oferecer para os jovens. Estudar na Holanda significa estudar na Europa, com pessoas do mundo todo e clima acadêmico aberto. Essa experiência no exterior vai permanecer com vocês a vida toda.”
Também participaram da cerimônia de encerramento do seminário da Capes o diretor de Cooperação Institucional do CNPq, Manoel Barral, e o secretário-executivo do Ministério da Educação, José Henrique Paim Fernandes.
Texto: Rodrigo PdGuerra - Ascom do MCTI