Aluno testa o simulador Girotec da Aeronáutica. Foto: Giba/Ascom do MCTI
A sensação de comandar um navio ou um pilotar avião militar brasileiro pode ser vivenciada pelo visitante da 9º Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade (ExpoBrasília), na capital federal.. Os estantes da Aeronáutica e da Marinha oferecem três ferramentas utilizadas no treinamento de cadetes e aspirantes: os simuladores de voo e navegação e o Girotec.
Segundo o capitão de Corveta (tipo de navio de pequeno porte, utilizado pela Marinha), Claudio Coreixas, o objetivo dos equipamentos é auxiliar e otimizar o treinamento considerando o tempo necessário de adaptação aos comandos. "A qualidade da familiarização com os instrumentos de navegação a bordo foi aperfeiçoada para reduzir o tempo de aprendizado no navio”.
O aspirante da Escola Naval da Marinha do Brasil no Rio de Janeiro recebe cerca de oito horas diárias de treinamento. Três delas são utilizadas para a familiarização no navio. "Com o simulador, conseguimos reduzir o tempo em uma hora. A partir de então, esta hora passou para o aperfeiçoamento de outras funções", explicou Coreixas.
Durante os quatro anos da Escola Naval os cadetes são submetidos a treinamento prático nas modalidades de Navegação Básica (onde o candidato a comandante deve seguir do ponto A ao B), Atracação ao Cais, Ancoragem de Navio (denominada como Fundeio na Marinha), Manobras Táticas (como formação antiaérea) e Homem ao Mar (características do vento, ordens aos timoneiros, tempo de manobra).
O navio utilizado para treinamento prático dos futuros comandantes tem capacidade para 18 tripulantes por dia. Nos três navios disponíveis para esta finalidade, apenas 54 aspirantes são submetidos à atividade diariamente. "Considerando que a escola conta com 800 aspirantes por ano, divididos em quatro turmas de 200 cada, o desenvolvimento da tecnologia foi fundamental para otimizar o tempo de treinamento”, disse o capital de Corveta.
Segundo Coreixas, o simulador foi desenvolvido como tese de mestrado. "A Marinha requer conhecimentos específicos para seus comandados. Por entender que seria importante conciliar a parte técnica com a operacional, me foi proposto o desafio de ser um especialista em programas de simulação para aplicação em treinamento”.
Ele ressalta que o simulador foi criado com o conhecimento adquirido no próprio treinamento. "Como eu já havia sido comandante deste tipo de navio que aparece no simulador e estava familiarizado com as dificuldades do treinamento, conseguimos produzi-lo com nosso próprio conhecimento". O capitão informou ainda que o simulador é fruto de trabalho científico, sem custo para a Marinha, pois conta com a utilização de software livre.
Aeronáutica
A utilização do simulador na Aeronáutica possui função semelhante. O que diferencia a formação dos aspirantes candidatos a pilotos dos cadetes é o Girotec. O objetivo deste equipamento é possibilitar o treinamento da orientação espacial dos aspirantes, com giro de 360° graus de três esferas metálicas. O aparelho oferece uma noção de voo ao piloto, o que inclui uma possível queda ocasional. "O conceito é o mesmo do sistema de girômetro utilizado para medir o deslocamento do eixo da terra", explica o capitão do Instituto de Estudos Avançados (IEAV), Reinaldo Flores Coelho.
O instrumento desloca o eixo de gravidade do corpo do piloto, testando seu raciocínio. Segundo Flores, quando o avião está de cabeça para baixo, todo o comando do avião deve ser racionalizado de maneira invertida para sua condução. "O Girotec e o simulador são complementares. Quanto mais acostumado ao primeiro, melhor desempenho você terá no segundo".
O teste consegue simular a situação real dos dois modelos de avião disponíveis no Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com sede em São José dos Campos. Para treinamento, o aspirante pode ser submetido a voo no Tucano T25, já no segundo ano da academia, e ao T27, no quarto ano.
"Se não passar no simulador ao final do primeiro ano da academia, o aspirante não é aprovado e não segue no curso. Ele não tem acesso ao voo prático", destaca Flores. Este critério foi adotado, explica o capitão, porque atualmente os quatro anos da Academia da Força Aérea são correspondentes à formação no ensino superior.
Texto Ricardo Abel - Ascom do MCTI