Um projeto do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) busca desenvolver foguetes abastecidos com o biocombustível nacional em substituição ao uso dos propulsores sólidos, alguns acrescidos de hidrazina, que é um componente importado e considerado corrosivo e tóxico.
Para impulsionar a produção do artefato no País, o IAE começou há cerca de 15 anos um programa de pesquisa baseado no etanol como combustível para os veículos espaciais. O projeto surgiu da necessidade de capacitar o instituto para operação, manuseio e lançamento de foguetes a propelente líquido, uma vez que, até o momento, todos os foguetes brasileiros utilizam exclusivamente propulsores sólidos.
“A ideia é a sequência natural no desenvolvimento de motores para foguetes e visa verificar o desempenho do motor em condições de voo e treinar equipes para operação e lançamento de veículos com propulsores líquidos”, afirma o coordenador da pesquisa, Coronel Santana Júnior. A concepção do foguete e o desenvolvimento são do IAE. Entretanto, partes desse novo foguete (sistema de alimentação e motor) estão sendo produzidos pela empresa Orbital, localizada em São José dos Campos, com recursos de subvenção Finep (Financiadora Nacional de Estudos e Projetos).
Atualmente, estão sendo realizados ensaios em solo (ensaios hidraúlicos, ensaios de resistência e ensaios de funcionalidade) com os componentes produzidos pela Orbital.
Tecnologia
O projeto do IAE prevê o domínio da tecnologia de propulsão líquida em foguetes de sondagem, representando um passo fundamental para o emprego desses motores em veículos lançadores de satélites, o que servirá para aumentar significativamente a carga útil e a precisão de inserção de satélites. O próximo passo da pesquisa é a conclusão de ensaios em solo para confirmação dos parâmetros de massa e propulsivos. “Somente de posse desses indicadores, comparando com os requisitos de um foguete, é que poderá ser confirmada a viabilidade e configuração de voo, bem como a data de lançamento do foguete, pois depende de recursos da Agência Espacial Brasileira”, explica Santana sobre o prazo final da pesquisa.
A principal dificuldade, no momento, é a montagem de dispositivos que posssibilitem os ensaios em solo, responsabilidade do IAE. Posteriormente, serão os dispositivos para lançamento. Assim, o atual conceito é utilizar o máximo possível os recursos existentes para lançamento dos foguetes de sondagem.
Hoje, poucos foguetes comerciais ainda utilizam a hidrazina em seus propulsores. A hidrazina como propelente foi primeiramente usada na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, em aeronaves militares. Durante o período da Guerra Fria, foi muito utilizada em mísseis balísticos intercontinentais, pois possui duas características essenciais para aplicações militares: prontidão de uso e estocabilidade. Isso decorre de sua capacidade de se inflamar espontaneamente, quando em contato com um agente oxidante ou catalítico, bem como de manter suas propriedades fisicoquímicas inalteradas por dezenas de anos, facilitando a sua estocagem.
O uso da hidrazina em foguetes é uma preocupação em todo mundo, por causa da toxicidade do produto. Para abastecer os tanques dos veículos espaciais, os técnicos usam roupas especiais para evitar a intoxicação. Na Europa, a Agência Espacial Europeia (ESA) está buscando um substituto para o combustível, que seja menos perigoso e também mais limpo. O projeto é conduzido junto ao Grupo de Corporações Espaciais da Suécia e envolve também o desenvolvimento de propulsores que funcionem com um novo tipo de propelente.