O conhecimento científico e as tecnologias podem ajudar gestores públicos e a população a garantirem a preservação de ecossistemas importantes, como é o caso dos manguezais. Áreas consideradas verdadeiros berçários de variadas espécies e que representam fonte de recursos, suporte a atividades econômicas e asseguram a proteção à linha de costa.
É o que defende a professora do departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), Flávia Mochel, coordenadora do Programa Manguezais do Maranhão; estado que tem a maior concentração de manguezais no País, em torno de 50% do total.
Na avaliação da pesquisadora, os estudos feitos na área contribuíram para sensibilizar a sociedade. “A conscientização hoje, nos anos 2000, é muito superior às décadas passadas, quando os impactos eram maiores. Isso se deve ao avanço das pesquisas; mostrando para os gestores ambientais e para as empresas, a importância dos manguezais não apenas ecologicamente, mas na manutenção de cadeias sociais, culturais e econômicas”, enfatiza Flávia.
A bióloga sustenta que o conhecimento fez com que a sociedade se apropriasse do discurso ecológico e adotasse várias práticas de conservação: ações de cunho ambiental, de recuperação e de prevenção ao desmatamento. Iniciativas que envolvem comunidades locais, organizações não- governamentais e gestores públicos. “Muitas empresas, que desmataram no passado, já apóiam programas de conservação e recuperação de mangues”, com Flávia.
De acordo com ela, a academia se debruçou na análise profunda desse ecossistema, que é um elo de ligação entre os estuários e os ecossistemas terrestres. Os estudos mostraram que várias cadeias produtivas, pesqueiras e alimentares; na região costeira, marinha e mesmo nas desembocaduras dos rios, dependem da saúde dos manguezais.
“A ciência e a tecnologia vêm demonstrando, ao longo das décadas, que o conhecimento do funcionamento ecossistema, das suas estruturas das espécies, dos seus limites, daquilo que faz com que ele funcione melhor ou pior, tenha sido utilizado tanto para prevenir e corrigir impactos como para punir as degradações e recuperar áreas. A gente pode experimentar tecnologias e técnicas para fazer com que a germinação ocorra”, argumenta.
Desafios
As maiores concentrações de mangues no País estão na amazônia costeira (nos estados do Amapá, do Pará e do Maranhão), seguida da região Nordeste, especialmente em Pernambuco e na Bahia. Outras ocorrências podem ser encontradas no Rio de Janeiro e no litoral de São Paulo. A cadeia se encerra na região Sul, na cidade de Laguna,
em Santa Catarina.
Diante da ampla legislação voltada à proteção dos manguezais no Brasil, Flávia atribui os focos de degradação ainda crescentes, à falta de uma fiscalização mais rigorosa por falta de estrutura dos órgãos envolvidos para coibir ações criminosas. “É difícil para os órgãos ambientais terem todo o recurso necessário num litoral tão extenso para fazer a gestão” reconhece.
A cientista defende mais investimento em pesquisas nas regiões Norte e Nordeste e demonstra preocupação com a possível alteração no Código Florestal Brasileiro, um dos temas em discussão na 62º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
O encontro da SBPC se realiza de domingo (25) a sexta-feira (30), no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal (RN). O tema central do evento, Ciências do Mar: Herança para o Futuro, foi escolhido pelo fato de o litoral brasileiro se constituir em um ecossistema de alta relevância ambiental, com significativo potencial econômico e social para o País.