O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), em Manaus (AM) recebeu nesta segunda-feira (30) um filhote de peixe-boi apreendido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Coari (Manaus) há duas semanas. O animal é uma fêmea de cerca de três meses com 89,5 centímetros de comprimento e 12 quilos.
De acordo com o fiscal da Secretaria, Wagner Moreira, o filhote estava amarrado pela calda a um pedaço de madeira ficando nas margens do rio Solimões, comunidade São José do Mato Grosso, em Coari, e foi encontrado pelos fiscais após denúncia anônima.
Ainda segundo Moreira, a mãe da filhote teria sido morta alguns dias antes da apreensão e, conforme relatos dos comunitários, a intenção do ribeirinho que mantinha o animal preso era vendê-lo para um viveiro.
“O rapaz que estava com o filhote preso ouviu o barulho da nossa lancha e fugiu. Os comunitários informaram que a mãe do peixe-boi tinha sido morta dias antes e que o filhote seria vendido para os viveiros que comercializam peixes em Coari”, disse.
No Inpa, o filhote foi submetido pela equipe do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) a exames físicos e médicos de rotina e depois amamentado. Para facilitar a adaptação em cativeiro, O LMA tem optado colocar os animais em dupla no tanque, conforme explica o veterinário do Inpa, Anselmo D’Affonseca.
“O risco da adaptação do peixe-boi em cativeiro ocorre devido ao estresse que o animal sofre devido a separação da mãe e a saída do habitat natural. Deixá-lo com outro animal ajuda a reduzir esse estresse”, disse.
Hoje, os tanques de peixe-boi do Inpa abrigam cerca de 40 animais. Só este ano, 11 filhotes foram trazidos ao Instituto pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), número acima da média de seis filhotes recebidos pelo Inpa anualmente.
Para D’Affonseca, o crescimento do número de peixes-boi trazidos ao Inpa pode ser entendido como reflexo da intensificação da caça à espécie, mas também indica uma possível recuperação dos animais no seu habitat natural.
“Este ano o Inpa recebeu um número atípico de peixes-boi. Pode ter havido uma intensificação da caça, mas as apreensões dos órgãos responsáveis ocorrem a partir de denúncias de comunitários, o que significa que esse aumento esteja ligado à conscientização da preservação da espécie. Outra hipótese é de que a espécie esteja se recuperando”, diz D’Affonseca.
Vulnerabilidade
A cada minuto, um filhote de peixe-boi sobe até a superfície para respirar. Essa característica fragiliza o animal, tornando-o mais vulnerável à caça que as espécies adultas.
“Os filhotes são mais fáceis de serem pegos pelos caçadores. Essa facilidade, inclusive, faz com que eles sejam usados como isca para que a fêmea seja atraída. Com o período de seca, os filhotes ficam ainda mais expostos e a caça acaba sendo facilitada”, conta D’Affonseca.
O veterinário explica ainda que no ambiente natural um filhote de peixe-boi não sobrevive sem a mãe. “O filhote que perde a mãe nessa idade fatalmente morre. Em cativeiro, em alguns casos, os filhotes foram adotados, mas no habitat natural isso é improvável até pelo tamanho dos rios. No cativeiro, como o espaço é menor, os filhotes perseguem as fêmeas e elas acabam se acostumando com eles”, conta.