Publicado pela primeira vez em 1941, o livro Plantas Oleaginosas da Amazônia ganha nova edição lançada na última quinta-feira (27), no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT). A publicação, que ainda subsidia estudos de cultivo, manejo e aplicabilidade industrial das oleaginosas, teve a contribuição de diversos pesquisadores do Museu Goeldi e da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Primorosa” foi como Suzana Pesce, neta de Celestino Pesce, autor do livro, definiu a nova edição da obra, que é fruto de uma parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por intrermédio do Museu Goeldi, e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead).
“É emocionante poder representar a família nesse lançamento e a re-edição é um reconhecimento para o meu avô”, conta Suzana. ”Com isso esperamos que as futuras gerações possam conhecer e estudar as espécies de plantas e os seus óleos, que são descritos no livro. E, assim, a memória do pesquisador Celestino Pesce será lembrada por sua contribuição à ciência”, completa.
O médico Manuel Ayres, pesquisador e pai do cientista José Marcio Ayres, esteve no lançamento da obra e também destacou a importância do autor no meio científico. “Esta solenidade, de grande significado científico, literário e artístico, constitui um resgate à memória desse autor, falecido há cerca de sete décadas”.
O livro
Na re-edição, de 333 páginas, encontram-se descritas espécies da flora oleaginosa, endêmica ou adaptada à região amazônica, e de alto potencial econômico e comercial. O seu conteúdo, que abrange taxonomia, descrição botânica e dados físico-químicos, foi atualizado e aborda temas como o potencial da flora oleífera da Amazônia, as suas sementes, a exportação dos produtos e as classificação das plantas.
“São 84 espécies, que comprovam a riqueza da biodiversidade brasileira, catalogadas a partir de um trabalho de grande dedicação”, afirma Carlos Guedes de Guedes, então coordenador geral do Nead, na apresentação do livro.
Já a diretora do Museu Goeldi, Ima Vieira, lembra no texto de apresentação o potencial das espécies apresentadas no uso em programas voltados para o desenvolvimento agroindustrial, “mas não sem antes estabelecer um extenso programa de pesquisas. (...) Só assim poderemos, quem sabe, provocar outra ‘revolução energética’ no País, desta vez, mais democrática e com sustentabilidade socioambiental”.
A edição em inglês
No seu discurso, Ima Vieira destacou ainda os caminhos tortuosos que a obra de Celestino Pesce percorreu até chegar à re-edição. Durante uma viagem pela Inglaterra José Marcio Ayres adquiriu uma cópia da edição do Plantas Oleaginosas da Amazônia em inglês e trouxe para Regina Pesce. A obra foi publicada em 1985 nos Estados Unidos, sem permissão dos filhos do autor.
Na edição em inglês, a introdução é de Richard Schultz, especialista em borracha e dendê e diretor do Museu Botânico da Universidade de Harvard. Ele afirma que “além de ter sido publicado em local obscuro, o livro foi escrito em português”, revelou Ima Vieira indignada no lançamento da nova edição. “Após ter conhecimento desses fatos, o interesse institucional pela re-edição da obra foi imediato. Não foi uma tarefa fácil, mas após cinco anos de espera a obra está aqui”, completou.
Participação do Museu Goeldi
Várias foram as contribuições de cientistas do Museu Goeldi nessa edição. Os pesquisadores Samuel Almeida e Maria das Graças Zoghbi, ambos da Coordenação de Botânica (CBO) são exemplos dessa participação, e ressaltam a importância do lançamento. “A obra é fantástica, porque, ainda nos anos 1940, já havia o inventário de um número significativo das espécies de oleaginosas”, destaca Almeida. Além deles, os técnicos Elielson Rocha e Carlos Alvarez, da mesma coordenação, também participam da edição como autores das fotos e desenhos, respectivamente.
Almeida lembra, também, que a re-edição é oportuna, dentro do contexto de valorização da biodiversidade amazônica. “Agora, as pessoas começam a voltar seus olhos para os óleos da Amazônia e o livro pode, então, ajudar a difundir essas informações aos pesquisadores da área de farmácia, química e cosméticos”.
“Tenho certeza que esta obra será muito útil aos botânicos, agrônomos e químicos e aqueles do setor produtivo que têm interesse agro-industrial ou bio-industrial, e que sabem que o sucesso de produção agrícola na Amazônia ou valorização da floresta em pé deve, antes de mais nada, buscar o conhecimento das espécies”, disse Ima Vieira no lançamento da re-edição. E Joaquim Soriano, atual coordenador do Nead, completou: “O livro será agora importante tanto do ponto de vista acadêmico como cientifico”.
A pesquisadora do MPEG, Maria das Graças Zoghbi, junto com o pesquisador Geraldo Filho, diretor do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Fedetral do Pará (UFPA) fez a revisão geral do livro, adaptando a forma como Celestino Pesce escreveu, mas mantendo o conteúdo dos textos. Zoghbi afirma "se sentir honrada com o convite. É muito bom participar de um livro que vislumbra um futuro sustentável para a Amazônia”. Geraldo Filho, também contribuiu com informações físico-químicas das espécies que contam do livro. Para ele “Não existe nenhuma outra obra na área tão expressiva como o livro do Celestino”.
“Outro diferencial da obra são as ilustrações e fotografias”, diz Almeida, que trabalhou na atualização da obra. As imagens são de exemplares pertencentes ao Herbário Murça Pires/Mpeg. O volume traz, ainda, uma seção especial que apresenta o autor, Celestino Pesce, com fotografia e reprodução de uma matéria de jornal sobre o dia do seu falecimento.
“Com este livro re-editado, o Museu Goeldi dá mais um passo importante na divulgação de obras clássicas e importantes sobre a Amazônia e firma seu compromisso com a região”, resume Ima Vieira.
Na ocasião do lançamento Joaquim Soriano, do Nead/MDA, e Ima Vieira, assinaram carta de doação de cem exemplares ao Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).
Serviço
O livro Plantas Oleaginosas da Amazônia custa R$ 60, no Espaço Ernst Lohse, no Parque Zoobotânico do MPEG, na avenida Magalhães Barata, 376, São Braz, Belém, Pará.