Durante uma expedição científica na rodovia BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), o biólogo Ricardo Braga-Neto, do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), percebeu que havia algo diferente em um pequeno cogumelo na mata, o fungo brilhava no escuro. Uma fraca luz verde, parecida com o brilho natural dos vaga-lumes, destacava o fungo na floresta.
A espécie já é conhecida, mas até então ninguém havia percebido nela o fenômeno da bioluminescência – mecanismo que permite a seres vivos emitirem luz. Com a ajuda do pesquisador Dennis Desjardin, Braga-Neto descobriu que Mycena lacrimans é a primeira espécie de fungo encontrada na Amazônia que tem o cogumelo bioluminescente, entre as 64 já classificadas no mundo.
Convencido de que a floresta pode guardar muitas outras surpresas, o pesquisador procura o auxílio de outros cientistas para aprofundar as pesquisas sobre fungos na Amazônia.
"Os fungos fazem parte de um reino tão importante quanto os animais e plantas, mas ainda são pouco estudados. Como eles são responsáveis pela reciclagem de nutrientes nos ecossistemas terrestres, são especialmente importantes na Amazônia, onde o solo é geralmente muito pobre", explica Braga-Neto.
Luz misteriosa
Os cientistas já têm algumas informações sobre o mecanismo que gera a luz emitida pelos fungos, mas ainda não se sabe para que ela serve. "Alguns estudos mostram que isso atrai insetos. Outra hipótese é que essa luz seja usada para afastar bichos que comem fungos. Mas há também a idéia de que a luz serve para atrair predadores dos bichos que comem fungos", conta.
Apesar de ser semelhante à luz emitida pelos vaga-lumes, o pesquisador adverte que o mecanismo é bem diferente. A luz dos fungos é contínua, emitida inclusive durante o dia, e está ligada ao processo da decomposição da lignina, substância presente na madeira.
Ver o cogumelo exibindo sua bioluminescência não é a tarefa mais fácil. "Uma boa estratégia para tentar achá-los é visitar a floresta em noite de lua nova, mas como geralmente se caminha na mata com lanternas acesas, é necessário ficar parado com a lanterna desligada por vários minutos olhando para chão, até que os olhos se acostumem com a escuridão e a luz dos fungos comece a ser reconhecida", instrui o biólogo no blog www.uleinpa.blogspot.com de pesquisadores ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT).
Com informações do portal Globo Amazônia