Segundo estudo feito pelo físico Fernando Barros Martins, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física, se todo o potencial eólico brasileiro fosse convertido, seria possível gerar cerca de 272 terawatts/hora (TWh) por ano de energia elétrica. Isso representa mais da metade do consumo nacional, que estava em torno de 424 Twh/ano, de acordo com dados referentes a 2006.
Hoje, o Brasil utiliza menos de 1% desta tecnologia e, de acordo com o responsável pelo Laboratório de Instrumentação Meteorológica do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPtec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), o físico Celso Thomaz, o pouco aproveitamento deste potencial eólico se dá principalmente pelos fatores econômico e cultural.
Segundo ele, o preço do aerogerador ainda é muito alto. Dentro do nosso sistema não compensa trocar de tecnologia. É muito mais barato queimar combustível, ainda que isto esteja comprometendo a sobrevivência do planeta. Thomaz diz que "outro fator de entrave é que o Brasil não tem uma cultura de buscar essas fontes alternativas de energia, embora tenhamos um clamor muito grande dentro da mídia, dentro da própria sociedade com o aquecimento global".
O chefe do Grupo de Energia e Meio Ambiente, doutor em geofísica Ênio Bueno Pereira, acredita que o maior problema não é tanto o financiamento, como a absorção da mão-de-obra.
"Não há reposição de pessoal para manter o conhecimento, embora o Brasil tenha excelentes institutos de pesquisas. Não adianta formar cientistas, pesquisadores. O governo tem que fixar, contratar esses cientistas. Precisamos ter uma carreira estável, o conhecimento científico é um bem de valor incomensurável, tem uma latência muito grande, o cientista estuda muitos anos até que ele possa retribuir esse conhecimento para sociedade", diz Pereira.
Na sua opinião, "o incentivo que o governo tem oferecido na área de energia renovável ainda é pouco, o governo tem que dar subsídios, como fez com Pro-álcool, que tornou-se referência no mundo todo. O Brasil tem sol o ano todo, somos um País tropical e não temos quase nada para a energia solar, por exemplo".
Responsabilidade
Pereira afirma que "temos que apostar nessas energia renováveis para substituir as fósseis. Sabemos dos estragos feitos pelos países desenvolvidos, injetando grande quantidade de CO² na atmosfera. Nossa responsabilidade é muito grande. Não podemos cometer os mesmos erros desses países no passado".
Para o pesquisador da área de energia eólica do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel) Antônio Leite de Sá a energia eólica só decolou um pouco no Brasil graças ao Programa de Incentivo de Fontes Alternativas da Eletrobrás (Proinfa).
"Agora já vamos ter leilões específicos para energia eólica, e isso ajudará ainda mais, seremos uma boa opção, principalmente no período da seca, quando os níveis de água ficam baixíssimos, e é justamente nessa época que os ventos são mais fortes. Antes, durante a seca, a Eletrobrás ficava dependendo de energia térmica, cujo preço é alto e não é uma energia limpa como a eólica", diz Pereira.
A Alemanha é uma das maiores economias do mundo a incentivar a energia renovável: cerca de 23% da energia que o país utiliza é a eólica.
"Na Alemanha e em outros países da Europa eles utilizam o medidor bidirecional. Qualquer pessoa, que tenha condições financeiras, pode instalar um gerador ou vários geradores na sua fazenda, por exemplo, e a energia excedente, aquela que não consumiu, pode ser vendida para a distribuidora e retornar para a sociedade como energia limpa", acrescenta o pesquisador Leite de Sá.